sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Rua do Ouvidor (conto)


RUA  DO  OUVIDOR

 

Ao contemplar tanta calamidade, não pude reter um grito de angústia que a rua do Ouvidor escutou sem protestar; e não por lei de celebralite crônica, eu que me pus a alertar essa idiotice monótona de ver lixo, assaltos e prostituição infantil, negada por esses fingimentos, a rua não me ouvia. A resposta, quase em devassidão social, foi compelir-me fortemente a olhar para baixo, e  ver os séculos que continuavam a passar. Histórias tristes, como a dos hebreus do cativeiro, outras alegres, como as devassas de Sodoma, e todas elas pontuais na sepultura...           

Quem me dará a decifração de uma eternidade sem erros? 

E um menino sujo, de alma que sorria me respondeu:

-Moço, me chamo Ouvidor...

( Rua do Ouvidor, passeio predileto de Machado de Assis no Rio de Janeiro)

 

Zé Augustho Marques

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