terça-feira, 29 de outubro de 2013

FERNANDO PESSOA


fernando pessoa
 



"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa
 

                                                           
"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
Mas na intensidade com que acontecem
Por isso existem momentos inesquecíveis,
Coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"

Fernando Pessoa
 

NOVO MEDO DE PODER

o nosso MEDO

TEM CARA DE ARREMEDO

POR ESSE PODER PODRE

QUE ESTÁ DIVINIZADO E SACRALIZADO

POR SEUS PRÓPRIOS PODERES URDIDOS

DE FOME E SEDE DE PODERES AVASSALADORES

QUE COMEM E BEBEM NOSSAS ESPERANÇAS

POR UM PODER DEMOCRÁTICO..............

ZÉ AUGUSTHO MARQUES

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Paulo Peres

Foto
 
A ARTE DE PAULO PERES FAZIA PARTE DE UM UNIVERSO PLÁSTICO
INCONFUNDIVEL, ONDE O DESENHO E A COR  POETIZAVAM O TEMA
COM SIMPLICIDADE E ERUDIÇÃO AO MESMO TEMPO...............
PAULO FEZ ARTE . SAUDADES...............
 
ZÉ AUGUSTHO MARQUES


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cultura e Educação no Brasil

 

Notícia

 

Suspeito de roubo de quadros pode acusar museu de negligência

Pinturas não foram recuperadas e podem ter sido queimadas

O advogado Catalin Dancu, que defende o romeno Radu Dogaru que admitiu ter roubado pinturas de Monet, Gauguin e Picasso na Holanda, ameaçou nesta terça-feira processar o museu holandês Kunsthal por negligência na proteção das obras (???? essa é muito boa, não???).

"Se não recebermos resposta dos culpados desta violação da lei holandesa sobre as medidas de segurança do museu (...) planejamos a contratação de advogados para intentar uma ação perante os tribunais na Holanda ou na Romênia", explicou Dancu. Dogaru e outros cinco supostos cúmplices, todos romenos, estão em julgamento desde agosto em Bucareste pelo roubo das pinturas: seis quadros expostos no Museu Kunsthal de Rotterdam, no sudoeste da Holanda, na madrugada de 16 de outubro de 2012.

As pinturas não foram recuperadas e poderiam ter sido queimadas pela mãe de Dogaru para encobrir o crime e proteger seu filho. Se o museu for condenado por negligência, teria que "responder em solidariedade" para pagar a seguradora dos quadros que desembolsou 18 milhões de euros para compensar o proprietário, acrescentou o advogado. Isso reduziria a quantidade a ser paga pelo seu cliente se for condenado por roubo. Entre as pinturas roubadas estão "Cabeça de Arlequim", de Pablo Picasso, "Waterloo Bridge" de Claude Monet e "Mulher em uma janela aberta" de Paul Gauguin.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DARTIS

Caro poeta amigo, Zé Augustho!

Verdadeiramente encantado com o que você me enviou.
Ontem recebi a revista de artes plásticas  DARTIS, Nº 54.

É um catálogo de altíssimo valor, porquanto, como vi na
contracapa, contém "mais de 100 artistas por edição",
com 4 edições por ano e já em seu 14º ano de existência.

Aleluia, uma longevidade admirável, já que, neste país,
as publicações de arte têm vida efêmera.

Lindas, lindas são as telas, uma festa de cores e formas
para a vista, mesmo em miniaturas, por motivos óbvios.

A sua colaboração, na revista, uma homenagem poética
"Para Alfonsina e o Mar", está simplesmente celestial. E
que ilustrações!

Minha vontade é pôr a DARTIS, toda, toda, no ar, nas
redes sociais, mas com todas as obras de artes nela
contidas.

Obrigado pelo presentação, caro Zé Poesia, e aqui vai o
endereço para quem queira deleitar-se...
www.dartis.com.br (No Facebook, Revista Dartis).

Abraço solidário,

João Gomes da Silveira

A SINETA

#LUTO #LIVROS #PORTO ALEGRE Morre Júlio La Porta, o xerife da Feira do Livro 

 Morreu José Júlio La Porta, 80 anos, conhecido como xerife da Feira do Livro de Porto Alegre, ontem, por volta das 16h. Internado desde segunda-feira passada no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, ele estava com Alzheimer em estágio terminal.

O velório de José ocorrerá no Crematório de Porto Alegre. A cerimônia de despedida está marcada para 18h desta quinta-feira.

Há dois meses, xerife havia sido internado numa clínica particular da cidade junto com a mulher Cecy La Porta, 87 anos, que também sofre da mesma doença. Eles estavam casados há 63 anos e tinham dois filhos e seis netos.

Na semana passada, o Diário Gaúcho havia publicado a situação atual do homem que durante 35 anos abriu e encerrou o maior evento literário da Capital. Uma corrente de fãs passou a visitar a banca de revistas dele, na Praça da Alfândega, onde o filho segue com os negócios da família. Admiradores do xerife prometem tocar sinos na abertura da Feira, como forma de homenageá-lo.

Conforme a organização da Feira, a Câmara Rio-Grandense do Livro também prepara uma homenagem a José. Mas não revela qual. Emocionada, uma das organizadoras do evento, Jussara Rodrigues, afirmou que ainda tinha esperanças de vê-lo na abertura.

- Ele era um querido, uma pessoa amada por todos. Todo o tipo de homenagem a ele será pouco por tudo o que o xerife representou — disse.

A história dos badalos começou em 1976. A pedido do então presidente da Câmara do Livro, Maurício Rosemblat, José abria e encerrava a feira tocando um sino. Esta seria a 36ª participação consecutiva do xerife na 59ª Feira, que será aberta em 1º de novembro.
Aline  Custodio/ZH
 
 
 
A SINETA DO NOSSO "XERIFE" DA FEIRA
 
VAI TOCAR A CADA LIVRO QUE SE ABRIR...

    •  
       

ARQUITETURA EM TRÂNSITO


Hoje, nesse exato momento de 2013, nos deparamos com uma imagem arquitetônica no Brasil, fatiada e reinventada pelo frenesi da urbanidade de encruzilhadas. Nossas capitais não possuem mais a vocação por suas ideologias de bem estar e humanidades... Só existe a "tara" pelo manifesto sobre as desigualdades sociais. Mas isto um Metrô resolve, ou um shopping neo alargado, também. O crescimento desenfreado de arabescos e portais de desenvolvimento, também resolvem. Mesmo que ejaculem descartes facílimos e rápidos nas bundas dos córregos e nascentes que viram sómente estatísticas fraturadas pelo verdugo das licitações e, imcompetências burocráticas. Não há conexão com o futuro, nem o compromisso com a visualidade urbana nessa fragilidade de diálogos que emitem vozes surdas e masaicos de "pichaffitis" que servem como murais e suportes pictóricos para referendar nossa própria estupidez! Nessa arquitetura desloucada da paisagem e em trânsito ou transitóriamente desimaginada de um futuro real, estariam Jean Michel Basquat e Keith Hering, hoje fazendo releituras dos muralistas mexicanos, Diego Riveira, Siqueiros e outros, denunciando a feiura desigual da sociedade contemporânea. Cada qual a seu modo...  As paredes não são apenas o sustentáculo das obras, mas sim também os seus suportes. Uma parede também serve para colocar o quadro negro ou a lousa que vai projetar o ensino correto da obra. Sem mimetismos! Sem a intromissão do burocrata disfarçado de camaleão ou de político subvertido pelo enforcamento dos parques, das ruas e avenidas. Precisamos urgente, deixar de sermos anônimos sobre a tela branca das fabulações, que pinta um quadro de cores ácidas, invertidas e não complementares  aos limites de uma arquitetura que caminha pelo fio da beleza incrongruente e esquece da narrativa de suas cidades. Que sempre tiveram um começo, um meio e talvez agora um fim...ININSUSTENTÁVEL.

 

Zé Augustho Marques



 
foto arte Jacque de Boni
 
meu site: http://www.jacquelinedeboni.com/#!photos

terça-feira, 22 de outubro de 2013

PINÓQUIOS DO NHENHEM

olha QUE A MENTIRA

VIROU PEDRA PRECIOSA

NAS BOCAS MAIS HORROROSAS

QUE NÃO MAIS SORRISOS TEM

SÃO BOCAS DE MI, VINTÉNS

ARABESCOS COM CINISMOS DE NINGUÉM

FALACIOSOS MAQUINISTAS DESSE TREM

VENDEDORES DO BRASIL......................

DE VELHOS E NENEM

DE BURROS DO ENEM

DE SOBRAS E TRAPOS................

VIVENDO COMO RATOS................

POETAS DO SEM PRATOS

QUE COMIDA NÃO TEM

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

BOLSA FURADA

DEZ ANOS DO BOLSA FAMILIA...............

A MISÉRIA CONTINUA...............

A DESASSISTÊNCIA CONTINUA.............

E AS ESMOLAS CONTINUAM ÀS PORTAS DAS IGREJAS

DOS GOVERNOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS...........

E O LEILÃO DITO HISTÓRICO DE LIBRA DO NOSSO PRÉ-SAL

VIROU LEILÃO DE AÇUCAR COM GOSTO AMARGO DE FUTURO...........

BRASIL MOSTRA A TUA CARA!

sábado, 19 de outubro de 2013

Mini Conto

 
(escultura Zé Augustho)
 

                      Luar Fechado


- Senta aqui, meu anjo.

A menina andando com o corpo solto sobre as pernas branquinhas.

- Que bom. Você veio mesmo!

Envergonhada, sentou com as entrepernas de viés e calcinha...

Bebeu... Dois golinhos de Vodka.

- Venha ver esse luar.

Mas o luar era mais ali. Fora.

Sentiu-se presa. Sim uma presa.

- Ai, que é isso?

Sacudida de tremores, cedeu àquele beijo.

- ÀS 20h de ontem, uma menina com ares de anjo foi encontrata às margens do rio piracanjuba...

- Desliga isso daí!

Direito a um Pai


 O direito a um pai
 
Maria Berenice Dias
Advogada
Vice Presidenta Nacional do IBDFAM
 
Existe o direito constitucional à identidade,  um dos mais importantes atributos da personalidade.
Todo mundo precisa ser registrado para existir juridicamente, ser cidadão.
Claro que esta é uma obrigação dos pais: registrar o filho em nome dos dois.
A Lei dos Registros Públicos, que é anterior à Constituição Federal e ao Código Civil - e que até hoje não foi atualizada - está prestes a ser, mais uma vez, remendada, sem que com isso venha a atender ao maior interesse de uma criança: ter no seu registro o nome de ambos os pais.
      A antiquada lei registral, atribui exclusivamente ao pai a obrigação de proceder ao registro do filho. Somente no caso de sua falta ou impedimento é que o registro pode ser levado a efeito por outra pessoa.
      Agora de uma maneira para lá de singela, o PLC 16/2003, recém aprovado pelo Senado,  atribui também à mãe a obrigação de proceder ao registro.
Ora, nunca houve qualquer impedimento para a mãe proceder ao registro do filho. Ela sempre assumiu tal encargo quando o pai se omite.
O tratamento, aliás, sempre foi discriminatório. Basta o homem comparecer ao cartório acompanhado de duas testemunhas, tendo em mãos a Declaração de Nascido Vivo (DNV) e a carteira da identidade da mãe, para registrar o filho como seu. Já a mãe só pode registrar o filho também no nome do pai, se apresentar a certidão de casamento e a identidade do pai.
Esta é outra discriminação injustificável. Quando os pais vivem em união estável, mesmo que reconhecida contratual ou judicialmente, nem assim a mãe pode proceder ao registro do nome do pai. Para ele inexiste esta exigência. Consegue registrar o filho sem sequer alegar que vive na companhia da mãe.
A Lei 8.560/92 e as Resoluções 12 e 16 do Conselho Nacional de Justiça, até tentaram chamar o homem à responsabilidade de registrar os seus filhos. Se a mãe indica ao oficial do registro civil quem é o genitor, é instaurado um procedimento, em que o indigitado pai é intimado judicialmente. Caso ele não compareça, negue a paternidade ou não admita submeter-se ao teste do DNA, nada acontece.  Ao invés de o juiz determinar o registro do filho em seu nome, de forma para lá que desarrazoada o expediente é encaminhado ao Ministério Público para dar início à ação de investigação de paternidade. Proposta a ação, o réu precisa ser citado, nada valendo a intimação anterior, ainda que tenha sido determinada por um juiz.
Às claras que esta é o grande entrave para que os filhos tenham o direito de ter um pai. É de todo desnecessária a propositura de uma ação investigatória quando aquele que foi indicado como genitor nega a paternidade e resiste em provar que não o é. Diante da negativa, neste momento deveria o juiz determinar o registro, sem a necessidade de qualquer novo procedimento.
Na hipótese de o pai não concordar com a paternidade, ele que entre com a ação negatória, quando então será feito o exame do DNA.
O fato é que a mudança pretendida nada vai mudar. Para a mãe registrar o filho em nome de ambos, precisará contar com a concordância do genitor, pois terá que apresentar a carteira de identidade dele. Caso ele não forneça o documento, haverá a necessidade do procedimento administrativo.  Ainda assim, para ocorrer o registro é indispensável que ele assuma a paternidade.  
E, no caso de o indigitado pai não comparecer em juízo ou e se negar a realizar o exame do DNA, vai continuar a existir a necessidade da ação investigatória de paternidade, quando todos estes acontecimentos não dispõem de qualquer relevo.
Apesar de o Código Civil afirmar que a recusa a exame pericial supre a prova a ser produzida, não podendo quem se nega a realizá-lo aproveitar-se de sua omissão (CC arts. 231 e 232), quando se trata de assegurar o direito à identidade a alguém, tais dispositivos não valem.  A recusa do réu de se submeter ao exame de DNA gera mera presunção da paternidade a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório (L 8.560/92, art. 2º-A, parágrafo único). No mesmo sentido a Súmula 301 do STJ, que atribui à negativa mera presunção juris tantum da paternidade.
Ou seja, a de alteração legislativa - anunciada como redentora - não irá reduzir o assustador número de crianças com filiação incompleta. Segundo dados do CNJ, com base no Censo Escolar de 2011, há 5,5 milhões de crianças registradas somente com o nome da mãe.
Mais uma vez perde o legislador a chance de assegurar o direito à identidade a quem só quer ter um pai para chamar de seu.

Cão Musical


NATIVO,
 FILHO DE PELO DO PATINETI

Na verdade, o cão seria do Caetano, filho do Patineti. Mas o Caetano cedeu a adoção ao Patineti. É um cusco especial. Nunca recebi tamanho prestígio de um vivente tido por irracional (eu considero que os animais têm racionalidade, apenas limitada à existência, sem eu filosófico). Quando comecei a cantar DISPARADA, dando uma canja com os Sperandir na Fazenda do Pontal, o NATIVO chegou e sentou comportadamente com os olhos em mim. Mal terminei de cantar e ele se retirou. Não é gratificante? Imita o adotante. Quem sabe procurava um jovem novo talento musical? (kkk)


PROVA DE QUE O NATIVO GOSTA DE MÚSICA

Esqueci de postar na postagem anterior a foto que prova o interesse do cachorro Nativo, filho adotivo do Patineti.




     



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sobre a poesia "Medo"

Olá, caro poeta Zé Poesia.

Você praticou um poema fantasticamente
enciclopédico.

Uma peça - aliás duas  peças - que bem
dizem do seu talento múltiplo, expresso
aqui no binômio: artista plástico x artista 
da palavra.


Abraço,

Gomes da Silveira

MEDO


                                          

 

Já não tenho medo da chuva

porém tenho medo dos pingos

que anunciam o medo

das vidraças nubladas...

 

Enfrentar o medo

é como queimar as mãos

no fogo das geleiras

 

É como enfrentar

um dragão

com amuletos e santinhos

 

A lua não medra

de seu eclipse

nem o sol de sua sombra

 

Desde então, algum dia

o medo me parece ser

uma canção adormecida

em começo de outono...

 

Os pássaros não tem medo

do vento!

Só de outros pássaros

desconhecidos...

 

Os elefantes?

tem medo sim, dos ratos...

Porque entram em suas trombas.

Asfixiam-os...

 

A língua talvez tenha medo

do pensamento.

Mas não tem medo

de morder a si própria.

 

Um anel de ouro

não tem medo dos dedos

mas a mão receia

por eles...

 

Os ratos só tem medo

dos laboratórios!

 

Uma nuvem pode ser

um vestido no céu.

Mas pode ser um tapete

de maus presságios...

 

O medo é uma abstração

na tela figurada

de uma engasgada coragem.

Ou, um sonâmbulo amor

perfumado de paixão

perto dos remédios...

 

Será que o medo

está subordinado aos interesses

comerciais e economicos

dos pássaros?

 

Ou o medo está temente

ao Deus Google da informação?

 

Penso que o medo

deveria estar terceirizado...

Pagaríamos alguém para ter medo!

Por nós!

 

E o medo do armário?

Das gavetas?

Das portas entreabertas?

Da portinhola que range?

Da escada que sobe?

Do galho que balança?

Do uivo

Do mordomo?

Do tic - tac da meia noite?

Do toc - toc na porta?

 

Porta que abre e fecha

para tantos medos...

 

Medo de escreve cartas ridículas!

Medo de dizer não!

Medo gelado...

Medo que a religião tem

das ciências e vice – verso.............

 

Zé Augustho Marques



 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Mário Magalhães


Mário Magalhães, 11/10/2013

http://imguol.com/blogs/92/files/2013/10/blog-biografias-arvore-de-natal.png
Árvore de Natal montada com exemplares da biografia “Marighella”, em 2012;
infelizmente, o Papai Noel não é tão generoso com os biógrafos como supõe Djavan – Foto Leonardo Pinto

Em 2003, quando abandonei minha confortável vida de jornalista de redação, alguns amigos supuseram que eu ficara maluco. Trocar a segurança do ótimo salário e o prestígio de repórter de grande jornal pela aventura de me tornar biógrafo não passaria disso mesmo: uma aventura. Ao saberem que o meu personagem seria um brasileiro maldito, castigado pelas conspirações do silêncio e do preconceito, tiveram certeza: eu surtara.

Dez anos depois, desconfio de que os amigos estavam certos. Porém, numa contradição aparente, não me arrependo do rumo tomado: dediquei nove anos de trabalho insano a preparar uma biografia não autorizada do revolucionário Carlos Marighella (1911-69). Por cinco anos e nove meses, cuidei exclusivamente do livro, sem outra fonte de renda digna de nota.

Até agora, considerava que os perrengues enfrentados, decorrentes da minha decisão, constituíam assunto da esfera privada. Diante do debate público sobre restrições à publicação de biografias, penso que se torna legítimo contar um pouco do meu sufoco. “Editores e biógrafos ganham fortunas”, afirmou Djavan (leia aqui). Será?

O que eu fiz nos nove anos mergulhado no livro: entrevistei 256 pessoas, algumas por dezenas de horas, em várias sessões, viajando para cá e para lá; consultei dezenas de milhares de páginas de documentos, boa parte secreta na origem _os papéis e as fotografias são oriundos de 32 arquivos públicos e privados de Brasil, Paraguai, Estados Unidos, República Tcheca e Rússia; devorei uma bibliografia de 500 títulos; organizei 2.580 notas sobre fontes, agrupadas ao fim do volume; escrevi e reescrevi obsessivamente, em busca da minha utopia literária: uma narrativa de tirar o fôlego, assim como havia sido de tirar o fôlego a vida do protagonista.

Com exceção de uma pequena, mas valiosa e reconhecida ajuda da Companhia das Letras, banquei tudo do próprio bolso: passagens aéreas, hospedagens, pesquisadores auxiliares em Salvador, São Paulo, Campinas e Moscou, profissionais qualificados na transcrição de quase mil horas de gravação, serviços de conversão de microfilmes em imagem digital e muito, muito mais. Sem eliminar as despesas de uma família de classe média carioca, com três filhos em idade escolar, da universidade privada à pré-escola idem (o caçula nasceu durante a elaboração da biografia).

Graças a muita gente a quem serei grato até o meu derradeiro suspiro, o livro foi bem-sucedido. A crítica recebeu-o generosamente, tanto a acadêmica quanto a jornalística. A Associação Paulista de Críticos de Arte premiou-o como a melhor biografia de 2012. O ator Wagner Moura e a O2, produtora do cineasta Fernando Meirelles, arremataram os direitos de adaptação para o cinema. Sob a direção de Wagner, o filme deve chegar às telas em 2016.

Nada superou a boa vontade e o carinho dos leitores. Nas livrarias desde outubro de 2012, “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” alcançou quatro reimpressões. Ao todo, já saíram 30 mil exemplares, no país em que a tiragem padrão oscila de 2.000 a 3.000 cópias.

Com todos esses triunfos, a conta é esta, na ponta do lápis e no teclado da calculadora: somando os direitos autorais a que tive direito pelos livros vendidos e a remuneração que receberei pela cessão da biografia para o cinema, o valor representa nanicos 15% do total dos salários de que eu abri mão ao me despedir do jornal. Não me enganei: quinze por cento. Voluntariamente, perdi ou deixei de ganhar 85 em cada 100 reais.

O cálculo é conservador, pois não inclui antigos benefícios, como participação nos lucros da empresa e automóvel zero quilômetro subsidiado.

Para que eu embolsasse o equivalente a um terço (e não 100%) dos salários que teria acumulado em 69 meses, “Marighella” precisaria vender cinco vezes mais do que já vendeu. A meta é irreal, como tem consciência qualquer editor júnior.

O balanço está incompleto. Para trabalhar só no livro, exterminei o respeitável pé-de-meia engordado desde 1986, quando dei os primeiros passos no jornalismo. Lancei-me à biografia em 2003. Quando meu dinheiro acabou, no segundo semestre de 2006, regressei ao jornal, do qual saí de vez em janeiro de 2010: sem dedicação exclusiva, não conseguiria concluir “Marighella”, pelo menos não o “Marighella” que eu escrevi.

Nesses nove anos, o padrão de vida aqui em casa decaiu. Como o pessoal tem os corações imensos, desses que comovem até almas brutas, ninguém se queixou. O vermelho tingiu meus extratos de conta corrente. Tivemos que fazer um empréstimo bancário. Um, não: três. Só pude ficar por conta do livro até o fim do ano passado porque a minha mulher, jornalista assalariada, segurou as pontas.

Chororô? Qual nada! Jamais fui tão feliz no jornalismo como nessa década investigando e narrando as estripulias do mulato baiano. Mas nunca mais vou topar uma empreitada semelhante, porque já impus sacrifícios demasiados a quem me ama e é retribuído intensamente.
Pessoal da censura

O modesto resultado financeiro do livro, a despeito do êxito de público e de crítica, não me surpreendeu, confesso. Eu já sabia que seria assim. Por que, então, fiz o que fiz? Por dois motivos, acredite quem quiser.

Primeiro, padeço de uma irrecuperável perversão de caráter: o amor patológico pelo jornalismo e, sobretudo, a paixão pelo gênero jornalístico da reportagem. Às vésperas dos meus 40 anos, completados em 2004, eu aspirava a encarar uma reportagem épica, sem as amarras de tempo (para apurar e escrever) e espaço (para publicar) inerentes a um diário impresso.

Segundo, mas não menos importante, e perdoem a ambição desmedida, típica de repórteres por vocação: eu sonhava legar uma história que, daqui a cem anos, contribuísse para que os brasileiros conhecessem o que foi o nosso embriagante século XX. A trajetória de Marighella tinha encantos jornalísticos suplementares: como certa historiografia oficial tentou eliminar seus rastros, e ele mesmo, por questão de sobrevivência, apagava as pegadas, desvendar mistérios insolúveis configurava desafio sedutor demais.

Todo esse esforço teria sido em vão se o espírito público não pautasse os herdeiros de Carlos Marighella, em particular seu filho, Carlos Augusto Marighella, e a viúva, Clara Charf. Jamais lhes pedi autorização para o livro. Não lhes submeti os originais, nem eles pediram para ler. Acolheram-me com fidalguia e entusiasmo, confiaram no meu trabalho. No entanto, se quisessem, poderiam ter impedido a circulação da biografia: a legislação antidemocrática, primitiva e obscurantista em vigor lhes oferece esse direito.

De acordo com o Código Civil, o direito de os cidadãos conhecerem a história é prerrogativa dos biografados e seus descendentes. O Estado não o assegura, para regozijo de políticos corruptos que almejam eternizar o segredo sobre seus atos. O acesso à memória e à verdade são direitos humanos hoje sonegados por normas totalitárias.

Exagero? Se alguém se propuser a escrevinhar uma biografia independente sobre o Cabo Anselmo, o verme que entregou a mulher grávida para os verdugos da ditadura pós-1964 a trucidarem, terá de pedir autorização ao delator.

Sabe o Amarildo, o trabalhador da construção civil que sumiu na Rocinha na noite de 14 de julho? O comandante da Unidade de Polícia Pacificadora na favela era o major Edson Santos, mais tarde indiciado por tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Quem quiser produzir uma biografia desse oficial da Polícia Militar só a verá nas estantes das livrarias se o major consentir. São elogiáveis as iniciativas para amparar materialmente a família do Amarildo, mas abomináveis os lobbies em favor de uma legislação que asfixia (como o saco plástico do Bope) e eletrocuta (como policiais procediam com moradores da Rocinha) biografias de torturadores e matadores.

Que tipo de biografia resulta desse sistema? Rame-rames laudatórios.

A ordem jurídica aceita hoje censura prévia. Quem gosta de censura é ditadura. Todo o malabarismo retórico que busca bloquear o conhecimento público sobre fatos e pessoas de dimensão pública sucumbe diante da seguinte constatação: se aparecer um neto desconhecido de Adolf Hitler no Brasil, teremos de solicitar protocolarmente autorização sua para publicar uma biografia em que o líder nazista seja descrito como genocida.

Só em nosso país, entre as grandes democracias, Hitler seria consagrado como herói, pois só haveria biografias chapas-brancas.

E Paulo César Farias? Uma biografia trombetearia sua postura de empreendedor decente, como exigiria a família, ou apresentaria o inventário de suas falcatruas pelos labirintos da corrupção? Na biografia do PC, o biógrafo teria de cascatear sobre sua morte, inventando que Suzana Marcolino matou-o, como sustentam os irmãos Farias? É assim que o pessoal da censura preconiza que se conte a história do Brasil?

Dudu Braga, filho de Roberto Carlos, indagou no Twitter (aqui): “Na discussão das biografias não autorizadas colocam artistas e esportistas no mesmo saco que ditadores e criminosos?”.

Como assim, “colocam”? Quem defende as restrições existentes é o grupo Procure Saber, no qual reluz Roberto Carlos. A lei não vale para todos? Ou Dudu Braga propõe normas específicas para os artistas, distintas das que governam os demais cidadãos? Na escravidão era assim.

O estatuto atual, com o respaldo do Procure Saber, protege, sim, ditadores e criminosos. Quem procurar saber da barbárie comandada por tiranos terá de recorrer a publicações estrangeiras, porque suas biografias terão sido abortadas no Brasil, com amparo legal.
Biografia nunca mais?

Escrever uma biografia, mesmo de sucesso, é péssimo negócio, ficou demonstrado. Djavan pontificou: “Editores e biógrafos ganham fortunas enquanto aos biografados resta o ônus do sofrimento e da indignação”. Qual sofrimento, o de Anselmo ou o de Soledad, a brava guerrilheira que o “cabo” entregou aos carrascos?

Sobre “fortunas”, Djavan incorreu em inverdade, espero que por ignorância, e não desonestidade. Mais: para reparar o “ônus do sofrimento e da indignação” existe a Justiça, à qual pode e deve recorrer quem se julga vítima de crimes como calúnia e violação de privacidade. Como neoarautos da censura prévia, o músico e seus parceiros se associam ao autoritarismo característico de regimes fascistas e stalinistas, e não da democracia.

Na ditadura, batalhávamos todos contra a censura prévia. Continuo na mesma barricada, contra as Donas Solanges, públicas ou privadas. Talvez um dia, vai que por uma biografia não autorizada, venhamos a descobrir por que muitos trocaram de lado mais rápido que a mudança da maré.

Estranho a obsessão do novo pessoal da censura com a poupança dos biógrafos que eles passaram a demonizar. Qual o problema em ganhar dinheiro com trabalho suado e escrupuloso, como eles ganham? A propósito, no meu projeto Marighella não recebi verbas públicas, assumidas ou disfarçadas sob os rótulos de renúncia fiscal, tipo Lei Rouanet. Nem um centavo. E nos seus projetos, Djavan?

O desprezo pelo trabalho alheio é ainda mais escrachado na “sugestão” da empresária Paula Lavigne, voz mais estridente do lobby pró-censura prévia (aqui): “Se alguém quiser escrever uma biografia e publicá-la na internet sem cobrar, tudo bem. O problema é lucrar com isso”.

Tal trabalho escravo, inconstitucional desde o século XIX, fulminaria biografias não autorizadas. Reiterando: biografia escrita por repórter constitui reportagem, que é um gênero do jornalismo. Reportagens de fôlego, como biografias, exigem três condições: a) domínio técnico; b) disposição editorial; c) condições materiais. Se não houver remuneração, proveniente da venda de livros, não há como se dedicar a uma história de vida. A não ser que o autor seja milionário… ou louco.

O Procure Saber também advoga que os biografados _artistas ou não, enquanto a lei valer para todos, sem distinguir castas_ recebam obrigatoriamente percentuais da receita dos livros. O compositor Pedro Luís apoia: “Todo mundo que é ingrediente do sucesso deve ser remunerado. Quem faz a revisão, a capa, não é remunerado? E o assunto do produto, não?”. O Cabo Anselmo agradece pelos caraminguás. Não se esqueçam do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O famigerado torturador não haverá de rejeitar uma biografia camarada.

As propostas exalam menosprezo, quase asco, pelo trabalho que não é seu. Os compositores reivindicam receber dos biógrafos por eventuais livros de que sejam personagens principais, mas não nutrem o hábito de pagar aos personagens que inspiram suas composições. Não têm mesmo que os remunerar, porque as pessoas não dividiram o trabalho de criação. O criador é remunerado, não o objeto que o inspira. Abstenho-me de enumerar uma relação infinda de músicas célebres inspiradas em pessoas de carne e osso.

Registro: nada contraponho a sociedades acordadas livremente entre biógrafos e biografados. Biografias autorizadas, às vezes muito boas, são legítimas como as não autorizadas. A violência institucional é abolir as biografias independentes, nas quais Paulo Maluf não figura como político devotado à decência, e Fernando Collor de Mello não encarna um estadista injustiçado. Haveria jornalismo crítico em uma biografia na qual a família de Benito Mussolini se tornasse sócia do biógrafo?

A legislação em vigor fere o direito de informar e ser informado, viola a liberdade de expressão, institui o monopólio da verdade, atrasa o Brasil. Não se resume a uma contenda entre biógrafos e censores, mas interessa à nação. É tão daninha que numerosos historiadores e jornalistas descartaram biografias promissoras, nocauteados pela intimidação de biografados e herdeiros que só admitem retratos bajuladores.

Para quem amargou tantos sacrifícios, soa ofensiva a acusação, desfraldada ou sutil, de que só se faz biografia para enricar. Mas isso é o de menos. Desgraça, como imaginou o compositor Alceu Valença, será montar no futuro uma nova comissão da verdade para revelar o que poderiam ter contado biografias banidas.

Da minha parte, caríssimo Djavan, seguirei em frente com minha sina de biógrafo de uma biografia só e meu valente Citroën C3, ano 2007.

Desisto de biografias, enquanto perdurarem os ameaçadores garrotes da censura. Maluquice como a que eu cometi, somente uma vez na vida, e olhe lá.

“Marighella” foi minha primeira e, se nada mudar, última biografia.
http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2013/10/11/caixa-preta-de-um-biografo-falido-debate-publico-confissoes-privadas/