sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Fronteiras do Pensamento

FERNANDO SAVATER FALA SOBRE EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA

NO FRONTEIRAS DO PENSAMENTO


Filósofo espanhol, autor de ‘Ética para meu filho’, realiza conferência em Porto Alegre no dia 26
 
O verdadeiro objetivo da educação é preparar as pessoas para serem humanamente felizes – isto é, solidários, juntos, em um contexto de cooperação. Sem educar, não vai ficar. O problema é: quem vai educar. Os bons educadores vão conseguir chegar antes dos maus? Por isso a sociedade tem que educar em defesa própria”, afirma o filósofo espanhol Fernando Savater, que gosta de ser reconhecido como professor. Um dos poucos autores contemporâneos da filosofia que se ocupa da educação, Savater também é reconhecido por seu ativismo político na luta contra o terrorismo, os nacionalismos e os fundamentalismos religiosos utilizando sempre as mesmas armas: a reflexão e o otimismo. “É preciso acreditar que é possível alcançar uma vida melhor. Mas não qualquer vida: é uma vida humana, com boas relações com outros seres humanos. Caso contrário, pode até ser vida, mas não chegará a ser boa nem humana. É isso que os professores podem mostrar a seus alunos desde pequenos”, ensina. Fernando Savater estará no palco do Fronteiras do Pensamento Porto Alegre na próxima segunda, dia 26 de outubro, a partir das 19h45, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110). Os pacotes de ingresso para todas as conferências desta edição já estão esgotados. Informações no site www.fronteiras.com.
 
Fernando Savater defende que a verdadeira educação não consiste somente em ensinar a pensar, mas "em aprender a pensar sobre aquilo que se pensa". Justamente em função dos avanços constantes no conhecimento e na tecnologia,  o educador diz ser fundamental a disposição para refletir. “Antigamente, a educação buscava informar porque não havia outras fontes. Mas, hoje, recebemos informações a partir de muitos canais. Por isso, o importante é ensinar a capacidade de ter uma mente que ordene o que sabe, e não uma mente simplesmente cheia de dados e de notícias”, afirma. Este seria o trabalho necessário para a formação de senso crítico e, consequentemente, político – “uma das maiores colaborações que se pode dar à nação”, diz Savater.
 
Nascido em São Sebastião, no país Basco espanhol, Savater foi um leitor voraz desde a infância, especialmente de literatura e quadrinhos populares. Formado em Letras e, é autor de mais de 50 obras, entre ensaios, narrativas e teatro, traduzidos para 20 idiomas. Entre suas obras mais conhecidas, além de Ética para meu filho, estão Desperta e lê, O valor de educar, e Política para meu filho, nos quais se dirige aos protagonistas da educação e afirma que o otimismo é imprescindível para estudar e exercer a profissão: “os pessimistas podem ser bons domadores, mas não são bons professores”, diz.
 
Savater Também é articulista do jornal El País e divide opiniões na Espanha: já colecionou ataques de conservadores por defender o aborto e a eutanásia e críticas de catalães e bascos por defender o castelhano como idioma nacional. Autor de alguns títulos de iniciação à leitura, Savater também provoca incômodo ao recomendar que jovens leitores não sejam necessariamente introduzidos aos clássicos logo no começo de suas formações. "Os professores devem ensinar que esses livros são importantes e dizer o motivo, mas também comentar com os alunos os livros que interessam a eles. Senão, não há maneira de competir com meios como a televisão e as redes sociais", afirma.
 
Defensor de uma ética do “querer” em contraposição a do “dever”, e inscrevendo-se na linha de pensamento anti-autoritaritário radical, próxima a teses anarquistas, Savater iniciou sua carreira como professor na Universidade Autônoma de Madri, função da qual foi afastado em 1971 pelo regime franquista. Nos anos seguintes, viveu exilado por vontade própria na França. De volta à Espanha, voltou a lecionar na cátedra de Ética na Universidade do País Basco e, desde 1995, é professor de filosofia na Universidade Complutense de Madri. Em 2000 recebeu do Parlamento Europeu o Prêmio Sakharov de direitos humanos pelo trabalho como dirigente do grupo ¡Basta Ya!, um movimento de cidadãos que combate as práticas violentas do grupo separatista basco ETA – pelo qual ainda é ameaçado de morte. Em 2007 ajudou a fundar o partido liberal Unión Progreso y Democracia, e em sua mais recente obra, ¡No te prives! Defensa de la ciudadania, questiona os direitos e deveres democráticos em um contexto de desconfiança política.
 
Classificado por acadêmicos e críticos literários como filósofo, tendo sua obra comparada a de nomes como Ortega y Gasset e Jean-Paul Sartre, Fernando Savater se coloca também como contrário ao ensino de qualquer preceito religioso nas escolas públicas: “o laicismo significa a ideia de que o cidadão é  a base da sociedade democrática, e não as etnias, religiões, ou localismos. Os cidadãos não são nativos. Isso é que deve ser ensinado: a cidadania não nasce da terra”, afirma, relembrando que a  educação não é um gasto, mas sim o investimento que dá sentido ao estado. “A democracia não é algo elementar ou espontâneo, mas é uma obra de arte social decantada historicamente, e uma de suas exigências é a de cidadãos capazes de utilizá-la. Ela não possui um botão que ao apertá-lo funciona sozinha; o motor da democracia somos nós, os políticos que somos todos. É preciso lembrar que os ignorantes nos mecanismos da democracia são também políticos como os demais, e a política se faz contando com eles. Se estes são maioria, se tornam um perigo”, atenta o filósofo.
 
Por isso Savater defende que é a sociedade que precisa se ocupar da educação e cobrá-la dos políticos, pois “mudam os políticos, mas a sociedade continua”. Para o pensador, as funções da educação seriam a de formar profissionais, capacitar cidadãos para lidar criativamente com as instituições e desenvolver a humanidade em todos os aspectos. “Há países, como o Brasil, que não têm recursos, porque a boa educação é uma educação cara. Mas é possível renunciar a educar os jovens e as crianças? Se a boa educação é cara, a má educação é ainda mais cara. A educação exige um desembolso econômico considerável, uma boa preparação dos professores, e todo um compromisso social. Não temos nenhuma alternativa. Dizer que as coisas são difíceis quando não temos mais remédios para fazê-las não é a solução”, reflete o pensador.
 
Em As perguntas da vida, Savater escreve que nós nos fazemos humanos uns aos outros. “Foi-nos passado pelo olhar: quando ainda estamos muito longe de saber ler, já lemos nossa humanidade nos olhos de nossos pais ou de quem cuida de nós. É um olhar que contém amor, preocupação, censura ou zombaria: ou seja, significados. E que nos tira de nossa insignificância natural para nos tornar humanamente significativos”. Por isso, para o autor, não existem temas propriamente filosóficos. “Podemos fazer filosofia a partir de qualquer coisa, e cada um deve fazê-lo a partir da sua vida. Gosto das coisas muito simples, a comida, o vestir e, no entanto, gosto da sofisticação intelectual. O meu sonho é converter-me em alguém de gostos muito simples e mente muito complexa”, finaliza o professor, cujas últimas obras editadas no Brasil serão lançadas no Fronteiras do Pensamento: Lugares mágicos – os escritores e suas cidades e A aventura do Pensamento (LP&M).
 
SOBRE O FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
O Fronteiras do Pensamento é um projeto cultural múltiplo que propõe uma profunda análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro. Comprometido com a liberdade de expressão, a diversidade de ideias e a educação de alta qualidade, promove conferências internacionais e desenvolve diferentes conteúdos que apresentam os mais renomados pensadores, artistas, cientistas e líderes em seus campos de atuação.
Temas, ideias e personalidades que moldam o nosso tempo ocupam o palco do Fronteiras, que tem como valores básicos o pluralismo das abordagens e o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados. Dessa forma, o seminário internacional busca avaliar tendências, aceitando a provocação destes que são, hoje, alguns dos mais renomados pensadores em atuação no mundo, constituindo uma linha interdisciplinar de pensamento.
Em seus nove anos de existência, o Fronteiras do Pensamento conta com mais de duas centenas de conferências internacionais realizadas para milhares de espectadores, servindo como plataforma para a geração de filmes de curta e média metragens, séries de livros e fascículos educacionais, além de diversas outras publicações nas diferentes áreas contempladas.
O conhecimento e as ideias também estão acessíveis ao grande público através do portal www.fronteiras.com, que oferece centenas de vídeos – com legendas em português, espanhol e inglês –, além de artigos, notícias e entrevistas para refletir, comentar e compartilhar.
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem e tem patrocínio de Unimed Porto Alegre e Hospital Mãe de Deus com parceria acadêmica da UFRGS. Parceria institucional PUCRS e Fecomércio-RS e parceria cultural UFCSPA. As empresas parceiras são Liberty Seguros, CMPC e BNDES. Patrocínio módulo educacional Petrobras. Promoção Grupo RBS.
 
FRONTEIRAS DO PENSAMENTO PORTO ALEGRE – TEMPORADA 2015
 
PRÓXIMA CONFERÊNCIA: Janette Sadik-Khan – 23/11.
LOCAL E HORÁRIO: Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), sempre às 19h45.
INGRESSOS: Pacotes de ingresso para todas as conferências da temporada esgotados.
INFORMAÇÕES: Na Central de Relacionamento Fronteiras 4020.2050 e no portal www.fronteiras.com
 
Informações para imprensa
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre
Cybeli Moraes
(51) 9827.5502

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