segunda-feira, 3 de junho de 2013

Chacina


CHACINA FASCISTA

Ao índio Oziel Gabriel,

morto no MS
 

Armados até aos dentes,

vão à guerra os federais

versus indígenas tontos,

porém desarmados, prontos

à guerra dos desiguais.

(Re)integração de posse

do que foi posse indevida

por guloso fazendeiro,

dono de farto dinheiro,

gente bastante atrevida.

No local, índios Terenas

a querer somente o seu,

a terra dos ancestrais,

sem qualquer pedaço mais,

do jeito que Deus lhes deu.

Neste país cabralino¹,

com tanto progresso à vista,

é fato que não se enterra:

morre mais gente sem terra

do que se atropela à pista.

Vejam, lá no Mato Grosso²,

onde estava assentamento,

um índio tombado à bala,

um crime que não se cala,

já desde o descobrimento.

Isto vale por ser dito

que, em mais de 500 anos,

a mudança não mudou,

e o latifúndio matou

pela mão dos desumanos.

No Brasil, não só foi morto

torturado ou comunista:

ainda também se mata

(dos tribunais vem na Ata)

quem tem sangue indianista.

Uma lástima, senhores,

são crimes sem pudicícia!

Índios foram metralhados

a mando de potentados,

justo nas mãos da polícia.

Uma lástima (das grandes)

que o latifúndio prospere,

tanto mate e pinte e borde,

e não há voz que discorde

que o dragão só nos impere.

Com mais um montão ferido,

todos índios fuzilados,

qual de sangue numa orgia,

em falsa democracia

de partidos paus-mandados.

Não me vergando a partido,

apesar de um socialista,

para já mostrar-me lesto³,

aqui lavro o meu protesto

contra a chacina fascista.

Fort., 1º/06/2013.
 
João Gomes da Silveira

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(¹) Cabralino adj. Relativo ao descobridor luso Pedro Álvares Cabral.

(²) Mato Grosso s. m. Na verdade, na Fazenda Buriti, Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul.

(³) Lesto adj. Que se move com desembaraço, ligeireza; que mostra agilidade, velocidade; lépido, expedito, rápido, apressado, ligeiro, ágil.




 

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