quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

João Gomes da Silveira
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C R Ô N I C A


SER OU NÃO SER CONSERVADOR
Já impliquei bastante com pessoas que apenas imaginava serem conservadoras. Eram as eleitas da minha aversão. Bobagem minha, porque os conceitos de ser ou não ser‘conservador’ têm lá sua muito razoável relatividade.
O meu estrabismo, na questão, era de tal modo confuso que, por dá cá aquela palha, entendia eu que todo militar ou religioso, homem ou mulher, era um baita sujeito chato. Em uma única palavra, conservador. Ou, por outra, cafona e fora das minhas cogitações.
Também não era bem assim. Estaria sendo injusto com esses dois segmentos? Com a rolança dos tempos, devagar, fui enxergando o ideário de um ou outro militar, sem contar com infindável lista de religiosos que também me agradaram e ainda agradam, até hoje.
Por exemplo, um pernambucano e comunista de carteirinha, ex-sargento do Exército, Gregório Bezerra, ingressou muito fácil no meu gosto. Peguei-lhe o autógrafo, nos dois volumes dos seus livros autobiográficos, em uma livraria de Fortaleza, quando o mártir da ditadura e herói do povo brasileiro regressou de longo exílio, na então União Soviética.
Que agora me lembre, outro militar das Forças Armadas por quem peguei um xodó de simpatia foi o ex-capitão Carlos Lamarca, que se fez guerrilheiro e foi morto por uma chuva de balas policial-militares, enquanto dormitava bem à sombra de uma árvore, no sertão da Bahia. Observem que ambos eram ex-, e não mais fardados da ativa.
Na seara dos nomes de religiosos, não por se terem tornado notáveis, além de muitos que considero santas almas, ainda em vida, só para citar brasileiros, amei de verdade os ‘modus operandi’ do Frei Caneca, no Recife, do Padre Mororó, em Fortaleza, do Padre Cícero Romão Batista, em Juazeiro do Norte, da Irmã Dulce, na Bahia, e de outro cearense, o cardeal Dom Hélder Câmara, no Brasil inteiro.
Lendo e ouvindo falar dessas figuras citadas, foi quando me dei por mim. E vi que também eu era possuidor da minha fatia de conservadorismo, uma vez que as insignes figuras acima nomeadas foram, por princípio, de castas conservadoras e mesmo reacionárias. Ora, assim, eu, um reacionário? Pois confesso que não vou com nenhum tipo de reacionário.
Apreciar personalidades às quais devotara azedume, em seus mananciais, seria ainda uma forma de tornar-me, ou continuar sendo, um tipinho conservador, retrógrado e reacionário. ‘Vade retro’! Ah, mas se eu implicava tanto com o simples conservadorismo de alguém, o que não dizer do quadradismo de um gajo reacionário?
Em política, sem exagero algum, considero o reacionário uma aberração da Natureza. A Natureza, que muda sem cessar, não os merece. Ou a gente muda, ou vira fóssil da pior qualidade. Dom Hélder, tal como o meu velho tio Teodoro, iniciou-se como fascista. Foi um membro “galinha verde” do Integralismo de Plínio Salgado. Mas mudou, que burro ele não era. Já o meu tio, coitado, morreu reacionário, ao menos conservador, lá isto ele foi, até se finar.
Citei poucas cabeças de gente da minha simpatia, nas duas aludidas áreas – até que eu cavaria mais –, porque senão vou dar com uma infinidade de bons quengos da caserna e do clero. Não estou esquecido de que Tiradentes era um alferes.
Aqui me fica uma lição: é preciso conviver inclusive com os bois da manada contrária. O Universo é múltiplo e a diversidade, indispensável. Diria mais: indisfarçável.
Fort., 14/02/2012.








 

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