sábado, 24 de dezembro de 2011

Jerônimo Jardim na mais pura verdade...

Não acredito que o Presidente Nelson Sirotsky compactue com a invisibilidade dos músicos urbanos gaúchos. Sei dos princípios que lhe foram infundidos, do compromisso com a arte produzida na comunidade. Mais de uma vez toquei e cantei para ele e amiguinhos na casa de seu pai. Era uma criança muito gentil e interessada. Talvez os inúmeros afazeres administrativos relativos ao gerenciamento da empresa o mantenha desconhecedor da cegueira que não permite aos editores do Caderno de Cultura ZH verem a efervescência e a alta qualidade da música local. Maurício Sirotsky era um homem de comunicação extremamente comprometido com a arte de sua aldeia. Revelou Elis Regina e outros tantos artistas; eu, entre eles. A ZH divulgava em destaque espetáculos e eventos relativos aos compositores e intérpretes da tribo, não raro em capa de caderno e páginas inteiras do jornal. Eu mesmo gozei do privilégio dessa deferência à minha arte. Graças ao período Maurício no comando de seus importantes veículos de comunicação, tornaram-se conhecidos todos os colegas oriundos de sua época. Isso que sequer gravávamos discos e os espetáculos não tinham nem perto da qualidade atual, com ótimos diretores, produtores, cenaristas, arranjadores e músicos, que somente alcançam fama quando se mudam para grandes centros. Nunca tivemos tão bons compositores, músicos e profissionais de artes cênicas como agora. No entanto, não fossem as redes sociais, raras exceções, teríamos hoje de cumprir a impossível tarefa de apresentar-nos de porta em porta. Saudade do Juarez Fonseca divulgando e comentando os espetáculos! Não faltava. Elogiava, criticava; nunca se omitia. A ZH, atualmente, raríssimas exceções, divulga em destaque somente espetáculos que vêm de fora ou que tenham meios de bancar os altos custos de mídia. Os artistas do nativismo, felizmente, não enfrentam o ostracismo a que os músicos urbanos estão condenados. Dispõem de importante programa de TV e de emissoras de rádio para divulgá-los. A ZH precisaria repensar sua atuação em relação aos acontecimentos do lugar em que está sediada, a começar pela qualificação das pessoas que se encarregam do prestigiado Caderno de Cultura. Ex-editor do referido Caderno perguntou-me em particular o que eu havia produzido depois de Purpurina, minha canção vencedora, com Lucinha Lins, do MPB Shell/81 da Rede Globo. Se ele, como editor, nada sabia do meu trabalho em décadas, o que esperar dos jovens muito jovens sob seu comando? Respondi-lhe com outra pergunta. Queres saber o que eu fiz além de gravar um disco no Rio com produção de Ivan Lins, de cantar no MPB Shell/82, de participar do Musicanto de Santa Rosa, de vencer a Califórnia da Canção de 1985, de publicar cinco livros infantis, de gravar pela RBS DISCOS, selo pertencente ao Grupo que o jornal integra, mais três CDs, um há poucos meses, fazer quatro apresentações em teatro neste ano, vencer recentemente o Festival de Músicas de Porto Alegre em parceria com Gelson Oliveira, receber prêmios como o Lupiscínio Rodrigues, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre; o Açorianos de Música, ambos pelo conjunto da obra; receber a Medalha Cidade de Porto Alegre diretamente do Prefeito; e Destaque da OMB por serviços prestados à cultura? Nada respondeu. Percebi porque NADA SOBRE MIM FOI MATÉRIA NO CADERNO DE CULTURA DA ZH EM DUAS DÉCADAS. Somente em 2011, estiveram concentrados muitos dos prêmios e destaques que recebi, a gravação do CD DE VIVA VOZ e o lançamento do livro SERAFIM DE SERAFIM. Sobre os espetáculos, de gravação e lançamento, somente saiu em ZH o anúncio da parceria com o Clube do Assinante. Estou em plena atividade depois de grave enfermidade aos 67 anos. Tomara que nesse ativo ocaso da minha vida ainda presencie mudança produtiva na atuação do Caderno de Cultura, quem sabe um retorno aos tempos do grande fundador do veículo. No momento, gozo o dom da invisibilidade. A maioria de meus colegas também. Acho que seria uma boa matéria: O dom da invisibilidade!        

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