sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Faço da reflexão do texto abaixo do poeta e arquiteto Almandade uma carta aberta para todos terem consigo no bolsa da calça e da camisa para lerem a todo instante. E... um abraço verde mais que verde em 2012.


ACIDENTES ECOLÓGICOS: TRISTE DIVERTIMENTO




"Quando a última árvore cair, derrubada; quando o último rio
for envenenado; quando o último peixe for pescado, só então
nos daremos conta de que dinheiro é coisa que não se come".
(Índios Amazônicos)

Os inúmeros desastres ecológicos que vem conduzindo o mundo a um
estado melancólico, não passam de discursos que se acomodam
tranqüilamente no cotidiano da mídia. A preocupação com o meio
ambiente, com o equilíbrio ecológico é objeto de vários discursos da
cultura dominante, mostrando as agressões e os perigos que nos ameaçam
como uma naturalidade da era industrial. Ou um acidente apenas
desagradável. Essa racionalidade que rege o progresso do mundo moderno
desprezou a afetividade como uma referência para a convivência das
pessoas e estabeleceu uma dicotomia entre o homem e a natureza. O
homem moderno é o principal predador do seu próprio meio ambiente, o
dominador da natureza.

O meio ambiente nos meios de comunicação vive sua "oralidade", mas
longe da reflexão, as questões passam para o plano do discurso,
mantendo a natureza como produto de consumo. A fala sobre a
preservação da natureza é filtrada por interesses políticos e
econômicos. Existe um cuidado da mídia em mostrar e investigar a
realidade espetacularizando-a e disfarçando as causas principais.
Fazendo do espectador um voyeur romântico de um divertimento triste.
Nossa paixão é canalizada para saber mais sobre o fato, a denúncia, o
esclarecimento minucioso e histérico da verdade, e não para reagir ao
fato. O humor da sociedade capitalista se apropria de tudo, inclusive
dos protestos e dos discursos sobre as agressões ao meio ambiente,
para seu próprio gozo ligado ao lucro e para disfarçar
responsabilidades.

São irreversíveis os danos ecológicos e acabam por apressar o tempo do
próprio homem. A estupidez da economia moderna em pensar o homem como
exclusivamente força de trabalho, sem sentimento e sem emoção
substituiu o desejo pelo desejo de consumo e conseqüentemente a
psicologia dos sujeitos. Nunca se falou tanto sobre meio ambiente e
passivamente estamos assistindo os desastres ecológicos como um
acontecimento ou um destino histórico, isto é, como se o modo de
produção, o modelo de desenvolvimento econômico e os interesses de
classe nada tivessem a ver com os fatos em questão. Essa idéia de
desenvolvimento econômico é insustentável. No desespero da ampliação
produção / consumo, uma guerra é inevitável contra a natureza, a ética
e quaisquer princípios de valores. No vale tudo por dinheiro não há
limites.


Almandrade
(artista plástico, arquiteto e poeta)

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Um acidente
Na paisagem
Ninguém e nada
Uma árvore
Madeira e homem
Solidão do mundo
Natureza ácida.


Almandrade
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