quinta-feira, 12 de junho de 2014

Mané Garrincha

meu caro, ZÉ Augustho,
foi um prazer conhecê-lo pessoalmente.
um abraço
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MANÉ GARRINCHA UM CRAQUE DO RISO


O personagem mais singular da história do futebol, Mané Garrincha, não
era um atleta, talvez um artista, com certeza um craque da humildade,
virtuoso e estilista, que encontrou no drible uma forma de encantar a
vida. Mais do que um jogador genial, ele transformou o futebol num
espetáculo delirante cujo objetivo principal não era ganhar ou perder,
e sim o riso. O próprio declara numa entrevista: “Para ser sincero eu
preferia driblar do que fazer gol, mas como a única maneira de ganhar
os jogos era colocando a bola na  rede, de vez em quando eu fazia meus
golzinhos”. Quando Garrincha jogava o estádio parecia mais um teatro
ou um circo.

Chamou a atenção do mundo com seus dribles precisos e desconcertantes,
improvisados na hora certa de suas pernas tortas que bailavam
contrariando a anatomia, um Charlie Chapin alegrando multidões. Sempre
cordial e imarcável, ingênuo até. Deixava o marcador perdido, sem
saber o que fazer no gramado, era certo sua passagem pela direita, mas
ninguém tinha certeza do momento. Para as torcidas que não
economizavam gargalhadas, até mesmo a adversária, não interessavam
mais o resultado do jogo, e sim contemplar o show do craque. Um “santo
do riso”, alegria dos que tiveram o privilégio de assisti-lo. “Foi um
pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas
tristezas”, palavras do poeta maior Carlos Drummond de Andrade.

Garrincha foi um caso aparte, uma exceção. Sua relação poética e
lúdica com a bola, era de um deus brincando com o mundo para divertir
seus santos. Na elegante crônica do  escritor, dramaturgo e jornalista
esportivo Nélson Rodrigues,  Garrincha não precisava pensar: “Tudo
nele se resolve pelo instinto, pelo jato puro e irresistível do
instinto. E, por isso mesmo, chega sempre antes, sempre na frente,
porque jamais o raciocínio do adversário terá a velocidade genial do
seu instinto”. Um bailarino? Desafiou, subverteu as concepções do
futebol europeu e solicitou do espectador uma outra atenção e
sensibilidade para o jogo. Mané é uma referência inédita para um
futebol que não mais existe.

Jogar bola para ele era uma forma de encarar a vida, não importava a
partida, fosse da copa do mundo ou uma pelada entre amigos, o prazer
era o mesmo. E a vida, é uma brincadeira que passa rápido, como passou
a agilidade de suas pernas, vencido pelo cansaço, pela boemia e pelo
álcool, a alegria foi finalizada pelo apito do tempo. “A tristeza não
tem fim, felicidade sim.” diz a indiscutível perfeição da voz de João
Gilberto na brilhante interpretação da canção de Tom e Vinícius.


Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)

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