quarta-feira, 28 de março de 2012

A ARTE E A CIDADE
 
 
 
Quando o tema é a qualidade de vida nas grandes cidades, interrogamos
o desequilíbrio do meio ambiente, o desemprego, a deficiência de
moradia... decorrentes de um modelo de desenvolvimento que se
caracteriza por favorecer padrões de concentração de renda e poder.
Não pensamos na visualidade urbana. Diante de tanta reivindicação não
resta tempo para pensar a “beleza” como um componente que qualifica o
ambiente cultural das cidades. Na cidade moderna, produto da sociedade
industrial, a integração arte / arquitetura foi um princípio racional
contra o desperdício de decorações, imposto pelo gosto eclético do
século XVIII.
 
 
 
As relações: arte / arquitetura, arte / cidade dizem respeito à
qualidade ambiental, são ingredientes que de vez em quando aparecem
nas reformas urbanas, no paisagismo, nos espaços e edifícios públicos
e privados. No século XIX, a cidade conta com um acervo de monumentos
e se transforma num museu. Os monumentos arquitetônicos se destacam no
tecido urbano e nos centros das praças são instaladas estátuas de
algum indivíduo homenageado pelos seus feitos e ações. A burguesia, ao
contrário das sociedades arcaicas, planeja o entorno, marca o urbano
com suas estátuas. Até o horizonte das experiências estéticas dos anos
60 do século passado, quando o Minimalismo superou o conceito
tradicional de escultura, transformando o objeto escultórico em
elemento de composição espacial, quase arquitetônico. Formas
geométricas primárias, como protótipos industriais, são inseridos no
urbano, destacando-se na paisagem pela monumentalidade.
 
 
 
Com os investimentos das grandes cidades voltados para obras básicas,
cidades oneradas por problemas financeiros e sociais, sem grandes
recursos, sem uma tradição de política cultural no planejamento
urbano, como imaginar a arte pública neste contexto?  Quando
intervenções em nome da arte são executados de maneira casuísticas e
personalistas, respondendo às vezes a interesses de ocasião, sem
qualquer relação com o entorno, distante do que entendemos como arte,
um  adorno na paisagem, neste caso a obra de arte deixa de ser uma
contribuição positiva para a visualidade urbana. Não vamos resolver o
problema com legislação, sem um programa de educação para as artes e
sem consciência de cidadania. É preciso educar os que decidem o
destino da cidade com um programa específico de apoio às artes.
 
 
 
No Brasil a integração arte / arquitetura foi uma preocupação do
modernismo, como podemos constatar na casa modernista em São Paulo em
1930, projetada por Gregor Warchauchik obedecendo aos ideais da
Bauhaus. No final da década de 30, no Rio de Janeiro o prédio do
Ministério da Educação e Cultura sob a coordenação de Le Corbusier com
participação de arquitetos como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, os
artistas plásticos Cândido Portinari e Bruno Giorgi foram convidados
para participar da concretização do projeto. Em Salvador, uma
legislação dos anos 50 obrigava a cada projeto arquitetônico a
reservar um percentual de seu orçamento para uma obra de arte.  E o
espaço público?  Pouco foi feito para valorizar o espaço urbano com a
presença da obra de arte. Intervenções que ignoram o contexto, a
escala, cultura e a contemporaneidade da cidade, confirmam o
crescimento desordenado e o provincianismo da cidade.
 
 
 
Se é possível falar de uma estética do espaço urbano, ela é resultado
da relação que os elementos construtivos mantém entre si  e com o
todo, nem sempre considerada nas reformas urbanas. Um exemplo: Praça
da Sé, centro histórico da Cidade do Salvador, palco de várias
reformas, o que fazer com uma fonte luminosa, que mais parece um
elemento decorativo, uma maquiagem para ocupar um pedaço abandonado da
Praça? Um espaço que poderia ser revitalizado do ponto de vista visual
e ambiental com esculturas contemporâneas. A meu ver, é oportuno o
pensar sobre a arte pública numa cidade onde o fazer artístico e sua
intervenção no urbano
é uma relação ainda empírica.
 
 
 
Almandrade
 
(artista plástico, poeta e arquiteto)
 
www.provadoartista.com.br/almandrade.html

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