sábado, 18 de junho de 2016

Carlos Scliar


Carlos Scliar no Paço dos Açorianos

 

As recentes doações de obras de arte de Jones Bergamin, marchand gaúcho que reside no Rio de Janeiro, para a Pinacoteca Aldo Locatelli, serão expostas a partir do dia 23 de junho no Paço dos Açorianos, sede da Prefeitura de Porto Alegre.

Intitulada “Scliar - Ouro Preto”, a mostra com curadoria de Renato Rosa, propiciará ao público vislumbrar um políptico, composto por dez pinturas datadas de 1973 que retratam a cidade mineira de Ouro Preto, famosa por sua arquitetura colonial. Também integram a exposição um álbum de serigrafias, produzidas por Carlos Scliar no final da sua vida, e que traz uma série de representações de motivos florais, além de gravuras e desenhos assinados pelo artista que já pertenciam ao acervo da Pinacoteca Aldo Locatelli.

O gaúcho Carlos Scliar (Santa Maria, 1920 – Rio de Janeiro, 2001) foi um dos mais ardorosos defensores do modernismo no Brasil, ciente do papel social da arte e que soube com maestria surpreender com suas composições de formas e espaço, tanto nas pinturas, quanto nas gravuras e desenhos. A abertura da exposição, na quinta-feira, 23 de junho, contará com a presença de Elio Scliar, neto do artista.

Exposição SCLIAR - OURO PRETO

Sala Aldo Locatelli - Paço dos Açorianos
Praça Montevidéu, 10 – Centro Histórico - Porto Alegre
abertura: 23 jun 2016, quinta-feira, 18h30
visitação: até 5 ago | seg a sex, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h30
acervo@smc.prefpoa.com.br / 3289-3735


JUSTIFICATIVA : A VIDA, A ARTE, por CARLOS SCLIAR (*)

Pinto porque gosto. Pintar é minha preocupação constante, inclusive quando não estou pintando. Todos os dias descubro algo. Gosto de mostrar meus quadros e me surpreendo permanentemente com a reação das pessoas. Pinto porque gosto e quero me comunicar. O pintor é um homem dentro do mundo, com suas responsabilidades acrescidas pela possibilidade especial de comunicação e atuação. É pela pintura que o pintor melhor se entende com o público e, se não for o caso, que faça outra coisa. Cada um diz o que sabe, como pode. Diariamente, podemos aprender a melhor e a mais profundamente transmitir nossa visão das coisas. Acho que não há forças capazes de impedir que a humanidade avance na conquista de uma vida mais digna e bela para todos. Tento, através dos meus quadros, transmitir minha confiança no homem e na sua luta, mostrando que a vida é bela e merece ser conquistada. Cada um diz o que sabe e como pode. Todos os dias conhecemos melhor o que nos rodeia. Não perder o fio da meada é fundamental. O fio começa conosco, pintores, quando nascemos, e tomamos consciência naquele instante em que percebemos que será através de um traço, das cores e das formas que poderemos dizer algo que resuma nosso amor à vida.... Não gosto de falar sozinho. Considero-me um homem rico da experiência de todos os homens, de todos os tempos. Se puder transmitir esse calor não será inútil minha presença. Transformo minhas estadas em Ouro Preto e Cabo Frio em laboratórios de liberdade... Gostaria de me comunicar com todo o mundo. Utilizo todos os meios para por meus quadros em contato com o público: exposições, reproduções, televisão, cinema, tudo o que permite sentir esse calor que destrói o isolamento. Tento renovar, aclarar minha expressão. Utilizo tudo que ajude essa minha sede de melhor e mais profunda expressão, mas é condição que me corresponda... O homem não é um ser passivo, a inércia não leva senão a uma repetição mecânica... Acredito no trabalho constante, na liberdade que nasce do conhecimento, no respeito ao homem e na sua luta positiva. O artista pode ser um instante poético, lúcido e estimulante de amor ao homem.

(*) in "SCLIAR O Real em Reflexo e Transfiguração", de Roberto Pontual, Editora Civilização Brasileira, 1970.

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