segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Balada...


Balada para as Moças do Amarelinho

(Arthur de Faria, sobre poema de Aldir Blanc)

As moças do Amarelinho

São sorriso no caminho de um homem sozinho,

São letras de um samba triste

de Nelson Cavaquinho.

Sonham com alguém que nunca chegará

Mas que pode estar em qualquer mesa;

O príncipe encantado,

O gigolô drogado

A eterna felicidade

A suprema safadeza,

- O lodo envolto em magia e gentileza:

Contemplar a rosa dada

Com o ânus machucado

E a boca salgada de esperma.

As moças do Amarelinho

São sempre muito sós

E como não tem a quem trair,

Traem a si mesmas.

Diante da caipirinha pensam na mãe, no futuro,

Em encontrar o verdadeiro rumo.

E acabam aceitando

Acabam aceitando

Ir dar uma banda pra queimar um fumo.

- Como é difícil a diferença

Entre bancar a escrota

E parecer sedutora:

A gente fuma de maneira teatral

Se abre com um galanteio banal

Cruza valium com chope, entorta e morre

Pra provar que não está morta.

Pode valer tudo: pancada, violação,

Contando que, na saída, a gente seja tratada

Com toda consideração.

De volta pra casa,

É só reunir

As sobras da excitação,

As cascas, o caroço, a cica

E, de pura indignação,

Tocar uma siririca.

Depois beijar os filhos

Pensar em morrer

Ligar a televisão

E escrever, solenemente,

Do fundo do coração, tomando lexotan:

“Desse jeito nunca mais,

Nunca, nunca, nunca mais!

Meu diário, até amanhã”.

No dia seguinte, choram no banheiro do escritório

Trabalham trêmulas, pálidas,

Falam com ar de velório.

Na rosa fanada em frente,

O dedo em riste do espinho.

Por isso é normal que aceitem,

Terminado o expediente,

O convite prum chopinho.

Passam batom, rímel, blush,

Se erguem das cinzas

E SORRIEM!!!

São de novo,

Graças a Deus,

As moças do Amarelinho.

(Eu conheci uma espanhola / Natural da Catalunha...)

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