quinta-feira, 17 de maio de 2012

DEPRÊ


Zé Augustho Marques


A médica-psquiatra me disse que "eu estava com depressão", com uma voz narrativa entre os polos da linguagem onde hoje em dia, tudo é matéria e matérico! Pois bem, eu que não sabia o que era ter a tal depressão, procurei voltar ao mundo pré-linguístico, representado pelo meu corpo. No meu pensamento a depressão é como um poema sem lastro, é uma procura de conexão com a matéria, pelo próprio tema que ela impõe-se, pela redundante e inexplicável abstração que se desenha a cada pingo d'água que deixei a torneira sem fechar direito. Meu esforço para torná-la uma obra de arte ou uma prosa antipoética, me torna um ser híbrido, entre a intuição de um insight literário, assinado pela heteronomia de uma bula do tamanho de um rolo de papel higiênico e, meu amadorismo redutor, de uma alma que escreve e assina com borrões de merda encagaçada...  Acho mesmo que agora que a ficha caiu, que a gente vive uma vida ambivalente, com ou sem decoros parlamentares entre nossos sistemas neurotransmissores.  E, eu estou louco para que chegue à noite, com o William Bonner e a Patricinha Poeta, me darem Boa Noite  e despejarem, mais um monte de coisas lindas e maravilhosas que este País produz!  Roubo, corrupção, gente na fila do SUS, esperando a morte chegar, o jogador que comeu o traveco e não pagou, um Cachoeira que é chefe de uma cachoeira de políticos e homens públicos, o Collor esbugalhando os olhos na sessão da CPIzza, o Lula fazendo visitinha pro Sarney, o telefone que não para de tocar, a "Copa" que vai ser a "melhor do mundo..." e, mais a puta que os pariu! Estou nas mãos da necessidade de desaparecer, como obra de arte Surrealista ou Dadaísta: esperando encontrar num milagreiro remédio qualquer, a antipoesia da cafeína, da pimozida, macrogol, do carisprodol, diclofenaco, cisax, paracetamol, ou uma boleta futurista, que me cure desse cárcere midiático, produzida pela doença do roubalheirol e seus sintomas de falta de valores, escoando pelos ralos da miséria visceral dessa gente podre...
E, boa DEPRÊ para todos!



Zé Augustho Marques

Um comentário:

Tarsila Rorato Crusius disse...

Tem como não ficar deprimido com as notícias recentes?
Talvez, mais que os antidepressivos, o melhor remédio contra a depressão hoje seja atirar a TV pela janela (não sem antes olhar para ver se tem alguém passando embaixo...)