terça-feira, 30 de abril de 2013

ODE


ODE ÀS PUTAS DAS VIELAS

 

Lá vão elas

escorrendo pelas vielas

feito cabelo molhado

escoradas às paredes desbotadas

do casario mal pintado;

Suas bocas pelo pigarro já roucas,

de carmesim rebocadas,

fedorentas de cigarro

são tintura contrastada

da pele contra o reboco

de palidez igualada...

 

E lá se vão elas

operantes, em oferta,

na proclamação do ato

que lava todas as mágoas,

pelas calçadas das vielas

por onde o odor das águas

corre acre e putrefato,

figuras de arte profana

arrematada ao leilão

entre reles e bacanas...

 

E lá se vão elas varando vielas,

catando níqueis, michês,

caras e coxas de fora

encarando o frio da aurora

no arrepio de pelo e tez,

agasalhadas ao sonhos

desde sempre alimentados

por sede e fome de antanhos

aos humanos facultados...

 

Lá se vão elas, as putas,

pelo inóspito das vielas,

nas caras e coxas

de fictícios vários nomes,

gravada como uma figa,

uma eterna mancha roxa

da profissão mais antiga

na história deste mundo,

mais antiga e disputada

pela lascívia dos homens

para o prazer mais rotundo...

 

Bundas arrebitadas,

saias curtas, apertadas

a se esgueirar

pelas sombras das calçadas

feito gravata traiçoeira

dos que às vielas estão à espreita;

Nisso ambos se igualam,

ambos à cata de um pato,

mas distinta é a bula,

distinta é a receita,

cada qual com sua gula,

pois que o daquele não sabe

e se o sabe menos quer,

já o destas pelo faro

busca cheiro de mulher

que lhe oferte à mostra as carnes

para a luxúria e o prazer

por preço barato ou caro,

conforme o ter ou não ter.

A escolha segue o bolso

e só depois de acertar preço,

o tesão já pelo avesso,

molda-se o erótico ao suposto

gosto ótico e estético,

quase próximo ao caótico

e íntimo do patético...

 

E lá se vão elas pelas vielas,

vida dita dissoluta

esta das assumidas putas

que encaram suas agruras, sua luta

enquanto as dissolutas de fato,

dissimuladas e belas,

com o aparente recato

da distância das calçadas

fazem do sexo sua prenda

ocultas em jóia e rendas

no lusco-fusco das velas.

Apenas a atenção me chama

e insana me deixa insone:

Aos homens que à cama

vão com aquelas

qual a imprecação, qual o nome

que os desbone ou desdoure,

como é mesmo que se os chama?...

                                                             
Barreto Leite

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