Maravilha e parabéns pela determinação
de vocês de continuar o Fala Brasil!
Li aí no instigante artigo do Affonso
uma alusão ao papa Francisco e a propósito do assunto, aproveito para
compartilhar com você uma resposta a um email que escrevi a um querido amigo
sociólogo, um homem muito culto com quem gosto de trocar idéias, em que também
falo o que senti em relação ao papa e seus discursos aí no Brasil.
Um abraço,
Mônica
Querido
Amigo,
Obrigada.
Quando tenho tempo de sentir as coisas e posso ser tocada por elas, as palavras
fluem mesmo com uma espontaneidade que me esvazia e que me faz bem. Quanto à
cronicidade da dor da saudade, dos nossos que já se foram, das nossas casas
antigas, tão ricas de presenças, de conversas, de visitas, o quê dizer?? Existe
dor mais latejante?
Acho
que foi isto também que o papa nos trouxe, a impressão de um familiar que
chegou em nossa casa para passar uns dias e que conversou conosco genuinamente,
que nos olhou nos olhos, que nos tocou, que nos ouviu, que ousou nos pedir
momentos de reflexão e de silêncio ( mesmo estando milhões de pessoas juntas),
que nos validou como pessoas neste mundo tao caótico, violento, desumano,
egoísta, superficial, e em que coisas, relacionamentos e sentimentos são tão
facilmente descartáveis. Ele nos transmitiu uma paz e uma doçura que há muito
não sentíamos vindas de uma pessoa tão pública, sobretudo, vindas da Igreja.
Foi
mesmo uma misericórdia de Deus ouvi-lo e vê-lo nesta hora, para mim e para
tantos milhares de pessoas, que precisavam ouvir o forte testemunho de sua fé,
de sua devoção e de sua intrepidez. Quando lhe perguntaram porque ele abaixa o
vidro do carro, não blindado, e porque anda no papamóvel sem proteção, ele
disse, " Sou indisciplinado nisso e não tenho medo. A gente não morre de
véspera e, se morrer, morri." Esta convicçao e este destemor são muito
inspiradores e convincentes, sem serem arrogantes, mas pelo contrário,
humildes.
Existe
um imenso vácuo de verdadeiros líderes no mundo, e quando aparece um Francisco
como este, de 76 anos, até os jovens ficam sob o encanto dele. Precisamos de
muitos Franciscos neste mundo. Ando tão sem fé na humanidade que às vezes tenho
medo de perder para sempre a esperança, que é a mensagem dele para os jovens:
não temam e tenham esperança. Achei lindo ele lhes dizer que não tenham medo de
ser felizes (até plagiando a música brasileira que diz "Viver e não ter a
vergonha de ser feliz, cantar e cantar a beleza de ser aprendiz.") Que
refrescantes mensagens ! Disse também que não gosta de jovens que não protestam
e lhes encorajou a ir contra a corrente e desejou que uma primavera dos jovens
aconteça ( creio que em uma sútil alusão à até agora não muito bem sucedida
primavera política nos países árabes.) Quem já ouviu um papa falar assim?
A
política e as cúpulas são corruptas no mundo inteiro. Aqui só há mais
sofisticaçao nos roubos, na corrupção e na hipocrisia. Imagine o desconcerto
que este Francisco está causando no Vaticano, quando recusou o luxo dos
aposentos papais e, agora, quando disse "Quem sou eu para julgar os
gays?" Com esta frase, como Cristo quando defendeu Madalena, ele ja semeou
uma revolução. Que diferença marcante entre esta postura e a do seu antecessor,
o alemão Bento XVI, que no seu conservador e preconceituoso intelectualismo,
fechou as portas da Igreja e excluiu milhares!
Que
grande desafio é viver, nao é?
Um
abraço,
Mônica
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