quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

EM NOME DE ROSE




(*) Maria Lucia Victor Barbosa –

O julgamento do mensalão trouxe para surpresa de muitos, algo surpreendente: pela primeira vez mandachuvas foram condenados. Mais impressionante estar entre eles José Dirceu, o “capitão do time” no primeiro mandado de Lula da Silva e que mesmo tendo perdido o cargo e depois o mandato de deputado federal, graças a Roberto Jefferson, continuou a dispor de enorme poder de mando dentro e fora do PT.

Esse acontecimento inédito se deveu ao relator, ministro Joaquim Barbosa, o que lhe granjeou admiração e respeito de parte da sociedade. Ele foi seguido pela maioria de seus pares, com exceção dos ministros Lewandowski e Toffoli que atuaram como advogados de defesa dos companheiros do PT. Não se pode também deixar de mencionar a atuação firme corajosa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que se tornou alvo da sanha vingativa do PT.

Com relação ao ministro Joaquim Barbosa se pode imaginar a profunda dor que seu prestígio causou a Lula da Silva. Não só porque ele se sentiu traído, visto que havia nomeado o ministro e pensava que o STF era mais uma de suas capitanias hereditárias, mas, principalmente, porque o descomunal ego do ex-presidente deve ter sido tremendamente abalado diante de alguém que lhe fez sombra entre cidadão esclarecidos.

Como no conto infantil Lula deve ter perguntado ao espelho mágico: “Espelho meu, existe no momento homem mais querido do que eu”? E o espelho respondeu: “Sim, majestade, o ministro Joaquim Barbosa”.

Para ser como gosto, politicamente incorreta, traço um paralelo entre Lula da Silva e o ministro Joaquim Barbosa, completamente diferentes em termos de caráter, sendo sua única semelhança a origem humilde:

Lula da Silva fez questão de continuar iletrado e é um velhaco que tudo conseguiu apenas com muita sorte e lábia. Joaquim Barbosa estudou, trabalhou e se tornou o homem honrado e competente que conseguiu salvar o STF das garras da quadrilha enquistada no Executivo pelo PT. Com relação ao primeiro me envergonho de ser brasileira. O segundo me inspira justo orgulho pelo meu país.

É vergonhoso, por exemplo, observar que o governo foi de tal modo loteado e corrompido por Lula da Silva, via seu então primeiro-ministro, José Dirceu, que volta e meia explode mais um tremendo escândalo de dimensões nunca antes havidas nesse país. Como disse jocosamente José Simão, colunista da Folha de S. Paulo, “escândalo no PT é como caixa de lenços de papel: você puxa um e vem logo três”. “Você nunca consegue puxar um só”.

Assim, enquanto o julgamento vai terminando vem à tona o caso de Rosemary Nóvoa de Noronha, chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, um cabide de emprego e um gabinete das sombras de onde Lula exercia comodamente seu terceiro mandato sem precisar ir à Brasília.

A bancária e sindicalista, Rose, também de muita sorte, trabalhou durante doze anos com o chefe da quadrilha do mensalão, José Dirceu. Neste período, como indica a Operação Porto Seguro da Polícia federal, ela fez um curso completo, com mestrado e doutorado na arte de obter vantagens e indicar trambiqueiros, falsificadores, achacadores, vendedores de facilidades, enfim, companheiros corruptos que passaram a ocupar altos cargos. Nada, porém, Rosemary conseguiria se não fosse sua intimidade com aquele a quem chamava carinhosamente de tio, de Luiz Inácio, de PR.

Em nome da Rose as portas se abriam, não tanto pela “madame”, mas por ordem do “tio” sempre solícito em atender aos pedidos de sua Marquesa de Garanhuns. Os jornais e revistas estão cheios de detalhes das tramoias, das fraudes, das negociatas da Marquesa e de seus protegidos e seria repetitivo enumerá-las. Ressalve-se, porem, a sordidez a que chegaram os labirintos escuros e tortuosos da administração publica.

Lula da Silva anda desaparecido, mas mandou dizer que o seu caso com Rose é assunto particular. Deve até se sentir orgulhoso e se comparar a presidentes que também tiveram amantes. Mas, ao que se sabe, outros presidentes não nomearam nem acobertaram corruptos para satisfazer os desejos de suas outras mulheres.

Se o caso fosse apenas particular Lula poderia ter presenteado Rose com joias caras, carros de luxo, apartamentos suntuosos. Afinal, o “pobre operário” deve estar podendo bancar tudo isso. Mas preferiu mandar a conta para o povo, pois quem paga a corrupção governamental somos nós.

Enquanto não acontece outro escândalo petista um fato importantíssimo não tem tido a relevância que merece. Refiro-me ao fracasso da expansão econômica. A previsão de um PIB, em 2012, que talvez não chegue a 1%, nos coloca de novo na rabeira dos Brics e configura o biênio perdido de Dilma Rousseff. O governo camufla a inflação, altera os dados, falsifica as informações. Inutilmente, pois a realidade acontece, independente da propaganda. E como é pesada a herança maldita de Lula da Silva e de sua sucessora, Dilma Rousseff.

(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

 

MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA  Nasceu em Belo Horizonte/MG. Atualmente reside em Londrina – PR.

É graduada nos cursos de Sociologia e Política, e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Lecionou nas seguintes universidades: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC), Belo Horizonte/MG; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maringá, Maringá/PR; Centro de Estudos Superiores de Londrina – CESULON (atual UNIFIL), Londrina/PR; Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina/PR; Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), Londrina /PR.

 Foi editora de pesquisa do Jornal Panorama. Londrina/PR

 Atuou na COHAB-LD como socióloga, onde criou o Departamento de Desenvolvimento Social com objetivo de efetuar ações sociais junto a moradores de conjuntos habitacionais e favelas de Londrina. Essa meta foi atingida através de programas e projetos voltados para elevação de renda, saúde, educação, cultura e esporte. O trabalho foi considerado modelo nacional na área da habitação voltada para projetos sociais, pelo BNH.

Maria Lucia proferiu inúmeras palestras e participou de vários simpósios e congressos nacionais e internacionais.

Publicou vários artigos em revistas culturais e científicas, nacionais e internacionais.

Tem artigos publicados em diversos jornais, entre eles: Jornal da Tarde, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Gazeta do Povo, O Estado do Paraná, Valor Econômico, Monitor Mercantil, Folha de Londrina, Gazeta do Paraná, Jornal de Brasília, Inconfidência, Diário da Tarde, Folha de São Carlos, Jornal Hoje.


É membro da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.

É autora dos livros:

1° - O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a Ética da Malandragem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.

2° - América Latina – em Busca do Paraíso Perdido. São Paulo: Editora Saraiva, 1995. (Esta obra foi premiada em junho/2002 com medalha de prata, pela participação no Concurso Internacional Marengo D’Oro, 6ª edição, Sestri Levante, Itália, na categoria “ensaio” para estrangeiros).

3° - Fragmentos de uma Época. Londrina: Editora UEL, 1998.

4° - Contos da Meia-Noite. Londrina: Editora Campanário, 1999.

5° - A Colheita da Vida – Resgate Histórico da Sociedade Rural do Paraná. Londrina: Editora Midiograf, 2000.

Entre seus trabalhos literários, além de contos e crônicas constam poemas.

 

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