sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

LINA BARDI






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A MAQUETE DO UNHÃO E A BAHIA DE LINA BARDI

A maquete do projeto de restauro do complexo arquitetônico do Solar do
Unhão em exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia é um aperitivo
para lembrar a presença da arquiteta Lina Bardi em salvador, sem
saudosismo e sem nostalgia. Nem tão pouco, para pedir desculpas pela
nossa estupidez com que tratamos o passado e desprezamos a memória da
cidade. A “mostra de maquetes oficina Lina Bo Bardi” nos aproxima do
projeto pensado pela arquiteta para esse espaço e de um fragmento
recente da história desta cidade.

O Solar do Unhão com a intervenção da Lina, é um exemplo bem sucedido
de um projeto de restauro e revitalização que deveria servir de
referência para outras áreas da cidade. Lina tinha um olhar moderno
sobre o passado, com uma sensibilidade que até surpreendia a
racionalidade que norteava a arquitetura moderna. Temos ainda muito
que aprender com a sua estadia em Salvador, aquele era um momento em
que o intelectual podia sonhar, a cidade tinha mais arquitetura e
menos empreendimento imobiliário. A universidade era um espaço que
abrigava sonhos e tinha um contato mais efetivo com a sociedade e o
cotidiano, diferente dos dias de hoje, voltada para a formação de mão
de obra para o mercado de trabalho.

A presença de Lina foi decisiva para a cultura baiana, arquiteta com
uma obra pessoal, rica em sutilezas de detalhes, como a escada
helicoidal do MAM, um monumento a esse invento milenar do homem para
dominar o espaço e a sabedoria popular responsável pelos encaixes do
sistema de travamento da mesma. Seu contato com as matrizes da cultura
popular da Bahia e do nordeste, a levou a aproximar de forma
inteligente o design do artesanato. Animadora cultural, criou o Museu
de Arte Moderna da Bahia com um valioso acervo da arte moderna
brasileira que se encontra guardado numa reserva técnica, longe do
olhar do público, contrariando a proposta da arquiteta. O museu era
também um local para formação, informação, como as oficinas do MAM,
atualmente sem seus principais cursos que tanto contribuíram para
formação de público e artistas.

É difícil visitar a exposição, prestar atenção no trabalho minucioso
das maquetes e não pensar no conjunto de obras da arquiteta na cidade
do salvador, nas suas intervenções na arquitetura, marcadas por um
modelo de pensamento. Um arquiteto de verdade, sabe que antes de
qualquer intervenção ou projeto, existem idéias, conceitos que
orientam a prática por mais empírica que pareça. Nesse caso, o
trabalho do arquiteto é um testemunho e expressão de uma sociedade ou
de uma geração. É o que documenta a Casa do Benin, o Teatro Gregório
de Matos, a ladeira da Misericórdia, no centro Histórico de Salvador,
tão falado e pouco cuidado, massacrado por uma política que tem como
prioridade a indústria do turismo que transforma tudo em espetáculo e
esconde a história. Como diria o mestre de muitos doutores, o geógrafo
Milton Santos, que sem precisar de recursos de cotas, provou para o
mundo que o saber está acima da discriminação: - O turista é o
habitante de lugar nenhum.- Se ele é de lugar nenhum, sem história,
preservar o que e para que? A indústria do turismo traz a maravilha do
dinheiro, mas ela é também o cupim que corrói a cultura.

Há um conjunto de obras dessa arquiteta que enriquece o patrimônio
cultural de Salvador, que passa despercebido pelos baianos, menos por
estudiosos, pesquisadores e curiosos que visitam esta cidade e querem
conhecer a arquitetura de Lina Bardi. A “galera” embriagada atrás do
trio elétrico, já não sente mais falta do teatro Gregório de Mattos,
projeto da arquiteta, que espera pacientemente obras de manutenção
para ser reaberto e voltar a prestar importante serviço à cultura
baiana. Lina projetou um espaço vazio, sem distinção entre palco e
platéia, com uma escada espetacular, um teatro experimental, mantendo
janelas para a entrada de luz e ventilação naturais. Quem melhor
utilizou o teatro foi José Celso Martinez, em 1992, quando realizou
uma oficina em torno de “As Bacantes”.

“Triste Bahia”, diz o poeta e poucos o escutam. No meu modesto
conhecimento, dois arquitetos pensaram um projeto de teatro para
transformar a concepção de teatro: Flávio de Carvalho, em São Paulo,
em 1930 com o “Teatro da Experiência”, fechado pela polícia logo após
a inauguração, e Lina Bardi com o Teatro Gregório de Mattos, em
Salvador, na década de 1980.

A minha imaginação de arquiteto, artista e ex-professor das oficinas
do MAM, diante da mostra de maquetes do Solar do Unhão, quer ver mais.
Que a obra exemplar da arquiteta com seu singular e cordial diálogo
entre modernidade e passado, nesta cidade, não venha a ser um dia
maquetes e objeto de pesquisa de historiadores.

Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)

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