quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Fronteiras do Pensamento

Janette Sadik-Khan encerra a temporada 2015 do Fronteiras do Pensamento

Ex-Secretária de Trânsito de Nova York realiza conferência em Porto Alegre no dia 23
 
“É preciso reimaginar as ruas. Elas são um dos recursos mais valiosos que uma cidade tem e ainda são bens que se escondem diante de nós”, costuma dizer Janette Sadik-Khan em suas falas que relatam a mudança drástica que uma cidade pode sofrer em pouco tempo e com baixo investimento. Em sua gestão como Secretária de Trânsito de Nova York, Sadik-Khan orgulha-se de ter apresentado uma transformação simples de se executar e que revolucionou o comportamento de uma das mais importantes cidades do mundo: a devolução das ruas para o trânsito de pessoas, com praças, boulevares, sinalização de vias, sistemas de ônibus rápido, ciclovias e espaços para pedestres. A conferência de Janette Sadik-Khan encerra a temporada 2015 do Fronteiras do Pensamento Porto Alegre, na próxima segunda, dia 23 de novembro, a partir das 19h45, no Salão de Atos da UFRGS. Os pacotes de ingresso estão esgotados. Informações no site www.fronteiras.com.
Ao longo dos seis anos de mandato frente ao Departamento de Trânsito de Nova York, entre 2007 e 2013, Janette Sadik-Khan enfrentou muitas críticas e desconfianças a sua forma de liderar os quase cinco mil colaboradores e administrar mais de dez mil quilômetros de ruas e centenas de pontes. Com um orçamento inicial de apenas dois bilhões de dólares, Sadik-Khan adotou uma abordagem de designer à inovação urbana, experimentando ideias com a população nova-iorquina, e realizando mais de duas mil consultas populares por ano, junto as diferentes comunidades da cidade. Em função de suas decisões, foi tachada de ser “anti-carro”, crítica que rebate afirmando: "sou a favor de projetos pró escolha".
Mas ainda que sua abordagem rápida e centrada em resultados seja compreendida como falta de flexibilidade em alguns cercos políticos, é unanimidade entre todos que poucas pessoas transformaram tanto a cidade de Nova York quanto Janette Sadik-Khan. Algumas de suas conquistas são a de interligar e dobrar a quilometragem de ciclovias na cidade, chegando a um total de 800 quilômetros; implementar sete rotas exclusivas de serviço de ônibus; criar mais de 60 espaços de convivência reaproveitando ruas e cruzamentos – incluindo seu maior projeto, que colocou provisoriamente centenas de cadeiras de praia no meio da icônica avenida Times Square, fazendo com que a população tomasse rapidamente o espaço público –, e auxiliar na implementação de um dos maiores programas de compartilhamento de bicicletas do mundo, o City Bike.
"Nossas ruas estavam congeladas no tempo por quase 50 anos. A visão era a de olhar para a rua através do para-brisa e pensar como fazer os carros se moverem o mais rápido possível do ponto A para o ponto B. Em Nova York, metade dos residentes não tem carro. Um terço dos moradores se locomove a pé, e outros dois terços usam sistema de transporte público ou carro. Mas é preciso incluir as pessoas que caminham e usam transporte, para que elas tenham o mesmo peso no planejamento urbano”, afirma Sadik-Khan, revelando que muitas das lições que segue vem dos princípios básicos do urbanismo: ruas são para as pessoas, e não para automóveis; dê as pessoas o espaço público que elas vão usá-lo; e ciclovias e praças protegidas fazem ruas mais seguras para todos.
Formada em Ciências Políticas pela Faculdade Occidental e mestre em Direito pela Universidade de Columbia, suas variadas experiências profissionais incluem o trabalho com bem-estar infantil, no Children's Defense Fund, em Washington; a engenharia de design em uma das maiores empresas mundiais do ramo, a Parsons Brinckerhoff; e a coordenação de transportes na Federal Transit Administration, sob o governo Clinton. Atualmente, é presidente do Strategic Advisory Board da National Association of City Transportation Officials (NACTO) e diretora de transportes da Bloomberg Associates, trabalhando com prefeitos de todo o mundo para redesenhar cidades com projetos que buscam rapidez e baixo custo.
Em suas diversas palestras e conferências pelo mundo, Janette Sadik-Khan sempre é questionada sobre a forma de melhorar as cidades – ao que geralmente responde: “cada cidade é diferente, você tem que adaptar a estratégia dependendo do lugar, tem que considerar os ativos, examinar onde quer crescer, quais são as áreas que precisam de ajuda, e então você considera qual é a melhor combinação de ferramentas: uma área de pedestres aqui, uma passarela acolá, um sistema de ônibus rápido. Não existe uma única fórmula para todos os lugares”, afirma, aproveitando para trazer o exemplo de seu projeto na Times Square: “se tivéssemos seguido passos tradicionais, teríamos levado cinco anos. Em vez disso, usamos cones como delimitadores e cadeiras de praia como mobiliário urbano para mudar o cenário rapidamente e gerar dados sobre aquela experiência de espaço público. O impressionante é que onde quer que você dê espaço, as pessoas ocupam. Parece até um episódio de Star Trek: eles não estavam lá antes, e de repente "zzzzt"! Todas as pessoas chegaram. De onde elas vieram eu não sei, mas já estavam lá”, comenta.
As contribuições de Sadik-Khan no campo do transporte já foram homenageadas com premiações da Rockefeller Foundation, American Institute of Architects, Municipal Arts Society, entre outros, e os dados gerados a partir das alterações na Times Square foram motivadores para outros experimentos que se tornaram permanentes. A redução de acidentes de trânsito, o aumento nas vendas, as melhorias no setor imobiliário, a ampliação do número de pedestres e a melhoria na segurança faz com que a avenida nova-iorquina seja hoje um dos 10 melhores lugares do mundo para o varejo – fato que pode ser conectado a abertura de cinco megastores no local, somente um ano após as alterações realizadas no design da avenida, que hoje já conta com mobiliário urbano permanente, mantido pelo próprio comércio local.
É nas metodologias do design, inclusive, que Janette Sadik-Khan reconhece a diferença no trabalho que realiza: “O design nos instrui sobre como devemos usar os espaços. O design que trouxemos para as ruas de Nova York a tornaram mais segura, pois é um desenho que preza pela visibilidade de todos os usuários. Usamos blocos e pedras de antigas construções, vasos e tinta para dar novos focos para as ruas, permitindo que elas sejam ao mesmo tempo verdes e tenham espaço para tráfego de ciclistas, carros, ônibus e pedestres. A lição que podemos aprender com Nova York é que é possível mudar as ruas rapidamente, não é caro, oferece benefícios imediatos, e pode ser bem popular”, ensina. Mas, ao mesmo tempo, alerta: “Mudar o status quo, especialmente nos transportes, não é para fracos de coração. As pessoas têm ciúmes das suas ruas. É natural. É o lugar onde andam, brincam, vivem. Ficam preocupadas quando o governo aparece e diz: ‘Olha, vamos mudar sua rua para melhor’. O ceticismo é natural. A marca do sucesso é quando se começa a ver famílias usando ciclovias. Assim como um cientista atesta a qualidade da água do rio pela quantidade de peixes, aferimos a qualidade das ciclovias pela quantidade de mulheres e crianças, que são indicadores de que o sistema é seguro”, conclui.
 
SOBRE O FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
O Fronteiras do Pensamento é um projeto cultural múltiplo que propõe uma profunda análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro. Comprometido com a liberdade de expressão, a diversidade de ideias e a educação de alta qualidade, promove conferências internacionais e desenvolve diferentes conteúdos que apresentam os mais renomados pensadores, artistas, cientistas e líderes em seus campos de atuação.
Temas, ideias e personalidades que moldam o nosso tempo ocupam o palco do Fronteiras, que tem como valores básicos o pluralismo das abordagens e o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados. Dessa forma, o seminário internacional busca avaliar tendências, aceitando a provocação destes que são, hoje, alguns dos mais renomados pensadores em atuação no mundo, constituindo uma linha interdisciplinar de pensamento.
Em seus nove anos de existência, o Fronteiras do Pensamento conta com mais de duas centenas de conferências internacionais realizadas para milhares de espectadores, servindo como plataforma para a geração de filmes de curta e média metragens, séries de livros e fascículos educacionais, além de diversas outras publicações nas diferentes áreas contempladas.
O conhecimento e as ideias também estão acessíveis ao grande público através do portal www.fronteiras.com, que oferece centenas de vídeos – com legendas em português, espanhol e inglês –, além de artigos, notícias e entrevistas para refletir, comentar e compartilhar.
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem e tem patrocínio de Unimed Porto Alegre e Hospital Mãe de Deus com parceria acadêmica da UFRGS. Parceria institucional PUCRS e Fecomércio-RS e parceria cultural UFCSPA. As empresas parceiras são Liberty Seguros, CMPC e BNDES. Patrocínio módulo educacional Petrobras. Promoção Grupo RBS.
FRONTEIRAS DO PENSAMENTO PORTO ALEGRE – TEMPORADA 2015
LOCAL E HORÁRIO: Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h45.
INGRESSOS: Pacotes de ingresso para todas as conferências da temporada esgotados.
INFORMAÇÕES: Na Central de Relacionamento Fronteiras 4020.2050 e no portal www.fronteiras.com
Informações para imprensa
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre
Cybeli Moraes
(51) 9827.5502

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