sábado, 4 de fevereiro de 2012

Numa poça de água

                                   



Os carros passaram e ela atravessou, chegando até a praça. Continuou andando . Calma. Um beijo de namorados entre as plantas secas por trás  do banco. Estava tudo seco. Até a noite não respirava bem. Fazia mês e pouco que não chovia. Com a cabeça despenteada sentiu de repente que era feliz assim. Tão claro esse sentimento, que de passos velozes, quase parou, como se a felicidade fosse caminhar a sua frente...   Sorriu para a pequena poça de água tremida da fonte. Quase seca! Pensou que felicidade tinha a ver com a velocidade das coisas.  Com o tempo das coisas também! Lembrou-se de um poema de Fernando Pessoa!  Sorriu, enquanto corria os olhos sob o retângulo das pedras que estufavam a secura dos mosaicos empoeirados da praça. Uma seta indicava o caminho do banheiro público. Mas não iria num banheiro público...  Viu milhares de cartazes espalhados pela praça: -seja feliz!   -venha participar da Academia da Felicidade do cidadão das cidades verdes! Cidade verde é a solução!  - Muito me alegra, senhorita, ter podido...   -Sim, não tem importância que ria de nós.  - Desde que a vi atravessando a rua, compreendi que a senhora não era uma pessoa qualquer, como as outras. Aceite um cartaz da nossa Academia...  Sentiu-se rodeada de olhares fixos e de cartazes móveis...  Era evidente que algo estranho tirava-lhe a firmeza do raciocínio. Pensava em não se assustar. Pegar o cartaz e seguir. Mas em que direção? A da multidão de cartazes verdes mas sem ninguém a empunhá-los ou seguir  aquele homem, lado a lado, de olhos fixos na outra ponta do mundo!  -Se quiseres vir comigo senhorita, ainda há tempo de matar a imprudência no planeta, alistando almas que...   -A senhorita está aí, faz um tempinho já, olhando para esta poça de água tremida da fonte...  Está vendo a felicidade?

Zé Augustho Marques

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