A ORGIA DA TROCA Uma luxuria de amizade, descontinua e secreta, com significação plena no circuito de troca da economia cotidiana. Hipocritamente a sociedade de consumo inventou uma forma ideal de perpetuar o espetáculo e o frenesi do natal: o amigo secreto, uma espécie de instituição de caridade da civilização dos bancos, do cartão de crédito e do comércio, e da felicidade profana proporcionada pelas operações mercadológicas. Religiosamente um mito da moderna tradição natalina. Seu princípio fundamental se baseia numa troca circular entre parentes, amigos ou colegas que participam de uma corrente, com uma discreta semelhança com certas instituições econômicas primitivas. Sustentada por um fantástico mercado de presentes, muito bem divulgado pelos fluxos de signos da indústria publicitária. Esta cretina amizade não passa de mais uma válvula do preciso sistema alimentador da economia da sociedade burguesa, com uma demanda de excrementos/ presentes maior que o entediado dia das mães , pois conta com mais um salário, o décimo terceiro. Cada participante desta corrente é obrigado a fazer uma dádiva a alguém e receber uma recompensa de um outro. Dá-se e recebem-se presentes como uma forma de intimidade exterior. Na maioria das vezes com valores equivalentes, previamente é estipulado o valor mínimo da coisa a ser doada. Não vale receber CDs e dar flores. O teatro do amigo secreto não passa de uma brincadeira sarcástica e maldosa. Uma reprodução simbólica das relações de troca do universo pequeno burguês, com o toque e o sorriso da precariedade arcaica. Uma surpresa compulsivamente esperada, calcada na necessidade imposta de perda, doação e reconhecimento. Ou seja, a necessidade de adquirir, consumir coisas, objetos. O servil exercício motivador da atividade de viver no mundo ocidental regido pelo capital e pelos sistemas de créditos expropriadores do gozo do corpo.
Almandrade (artista plástico, poeta e arquiteto) www.provadoartista.com.br/almandrade.html www.expoart.com.br/almandrade
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