Carlos Scliar no Paço dos Açorianos
As
recentes doações de obras de arte de Jones Bergamin,
marchand gaúcho que reside no Rio de Janeiro, para a Pinacoteca Aldo Locatelli,
serão expostas a partir do dia 23 de junho no Paço dos Açorianos, sede
da Prefeitura de Porto Alegre.
Intitulada
“Scliar - Ouro Preto”, a mostra com curadoria de Renato Rosa, propiciará ao público
vislumbrar um políptico, composto por dez pinturas datadas de 1973 que retratam
a cidade mineira de Ouro Preto, famosa por sua arquitetura colonial. Também integram
a exposição um álbum de serigrafias, produzidas por Carlos Scliar no final da
sua vida, e que traz uma série de representações de motivos florais, além de
gravuras e desenhos assinados pelo artista que já pertenciam ao acervo da Pinacoteca
Aldo Locatelli.
O gaúcho Carlos Scliar (Santa Maria, 1920 –
Rio de Janeiro, 2001) foi um dos mais ardorosos defensores do modernismo no
Brasil, ciente do papel social da arte e que soube com maestria surpreender com
suas composições de formas e espaço, tanto nas pinturas, quanto nas gravuras e
desenhos. A abertura da exposição, na quinta-feira, 23 de junho, contará com a
presença de Elio Scliar, neto do artista.
Exposição SCLIAR - OURO
PRETO
Sala Aldo Locatelli - Paço dos Açorianos
Praça Montevidéu, 10 – Centro Histórico - Porto Alegre
abertura: 23 jun 2016, quinta-feira, 18h30
visitação: até 5 ago | seg a sex, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h30
acervo@smc.prefpoa.com.br / 3289-3735
JUSTIFICATIVA : A VIDA, A ARTE, por CARLOS SCLIAR (*)
Pinto porque gosto. Pintar é minha preocupação constante,
inclusive quando não estou pintando. Todos os dias descubro algo. Gosto de
mostrar meus quadros e me surpreendo permanentemente com a reação das pessoas.
Pinto porque gosto e quero me comunicar. O pintor é um homem dentro do mundo,
com suas responsabilidades acrescidas pela possibilidade especial de
comunicação e atuação. É pela pintura que o pintor melhor se entende com o
público e, se não for o caso, que faça outra coisa. Cada um diz o que sabe,
como pode. Diariamente, podemos aprender a melhor e a mais profundamente
transmitir nossa visão das coisas. Acho que não há forças capazes de impedir
que a humanidade avance na conquista de uma vida mais digna e bela para todos.
Tento, através dos meus quadros, transmitir minha confiança no homem e na sua
luta, mostrando que a vida é bela e merece ser conquistada. Cada um diz o que
sabe e como pode. Todos os dias conhecemos melhor o que nos rodeia. Não perder
o fio da meada é fundamental. O fio começa conosco, pintores, quando nascemos,
e tomamos consciência naquele instante em que percebemos que será através de um
traço, das cores e das formas que poderemos dizer algo que resuma nosso amor à
vida.... Não gosto de falar sozinho. Considero-me um homem rico da experiência
de todos os homens, de todos os tempos. Se puder transmitir esse calor não será
inútil minha presença. Transformo minhas estadas em Ouro Preto e Cabo Frio em
laboratórios de liberdade... Gostaria de me comunicar com todo o mundo. Utilizo
todos os meios para por meus quadros em contato com o público: exposições,
reproduções, televisão, cinema, tudo o que permite sentir esse calor que
destrói o isolamento. Tento renovar, aclarar minha expressão. Utilizo tudo que
ajude essa minha sede de melhor e mais profunda expressão, mas é condição que
me corresponda... O homem não é um ser passivo, a inércia não leva senão a uma
repetição mecânica... Acredito no trabalho constante, na liberdade que nasce do
conhecimento, no respeito ao homem e na sua luta positiva. O artista pode ser
um instante poético, lúcido e estimulante de amor ao homem.
(*) in "SCLIAR O Real em Reflexo e
Transfiguração", de Roberto Pontual, Editora Civilização Brasileira, 1970.
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