Guerreira da Paz da Libéria é uma das poucas mulheresagraciadas com o Prêmio Nobel
Vivendo os horrores de uma guerra que durou 14 anos, tomou mais de 250 mil vidas e contribuiu para o estupro de praticamente metade da população feminina, uma mulher compreendeu que se qualquer mudança tivesse que acontecer naquela sociedade teria de ser feita pelas mães. Leymah Gbowee iniciou, então, um movimento: convocou liberianas de 30 etnias a orarem pela paz, vestidas de branco e sem distinção de religião. A mobilização foi crescendo durante o conflito, até culminar em uma greve de sexo que obrigou o regime do ditador Charles Taylor a integrá-las às negociações de paz. A história de força, esperança, fé e ativismo pelos direitos das mulheres é a que Gbowee vai contar no palco do Fronteiras do Pensamento, a mesma que a levou ao Prêmio Nobel da Paz em 2011, dividido com sua compatriota, a atual presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, e com a jornalista iemenita Tawakkul Karman. A conferência ocorre no dia 9 de setembro, às 19h30, no Salão de Atos da UFRGS (Av.Paulo Gama, 110). Informações pelo fone (51) 3019.2326 ou no canal www.fronteiras.com.
Quando nem havia acabado o colégio, Gbowee viu seus sonhos de estudar irem por água abaixo com a implosão da guerra civil. Sua família precisou se abrigar num campo de refugiados em Serra Leoa e só voltou depois de algum tempo para uma Libéria totalmente devastada. Quando criança, sofreu com rubéola, malária e cólera, sobrevivendo a um ambiente mais do que inóspito. Por volta dos vinte anos e já com quatro filhos, especializou-se em enfermagem e assistência social, trabalhando na árdua recuperação dos meninos soldados mutilados – crianças recrutadas pelos rebeldes à base de álcool e drogas que, uma vez feridas, eram retiradas do exército tornando-se a escória da sociedade. “Nada deveria levar uma pessoa a fazer o que foi feito com as crianças da Libéria, drogadas, armadas, convertidas em máquinas de morte”, afirma Gbowee, que depois de ter visto seus próprios filhos passarem fome, tomou como bandeira o cuidado com as crianças liberianas.
Depois dessa provação, a ativista – que também possui uma especialização em Psicologia Pós-trauma na Universidade de Virginia, Estados Unidos – trabalhou com mulheres violentadas. “Eu tinha 17 anos quando a guerra começou, quando estávamos protestando eu tinha 31 anos. Eu já tinha sentido tanto medo, que estava imune”, comenta.
O apelido de “Guerreira da Paz” só se tornaria conhecido no cenário internacional a partir de 2002, quando Gbowee, em função de um sonho, conclamou um grupo de mulheres a rezar. Ela conta a história em sua biografia, relatada no documentário Pray the devil back to hell e no livro editado pela Companhia das Letras Guerreiras da Paz: “Um dia sonhei que uma voz me dizia para reunir mulheres para rezar, pois juntas iríamos acabar com a guerra. Acordei, corri para a igreja luterana em que trabalhava como voluntária e contei para o pastor. Ele disse: O sonho é seu. Você é quem deve honrá-lo. Procurei, então, a presidente da organização das mulheres luteranas e passamos a nos reunir para rezar. Aos poucos, fomos chamando outras igrejas protestantes e a atenção das muçulmanas, que se engajaram na luta. Líamos trechos da Bíblia e do Corão que falavam da força transformadora das mulheres. Nesses livros, elas não ficavam só rezando, não. Iam à luta. E isso nos encorajou tanto que, em 2001, nos vestimos de branco e fomos fazer piquete num campo de futebol que ficava no trajeto diário do ditador Charles Taylor. No início, éramos vinte ou trinta mulheres protestando todos os dias. Em dois anos, viramos duas mil. Estávamos exaustas depois de protestar um dia todo. Aí, Assatu, uma muçulmana do grupo, disse: Estamos fazendo de tudo para mudar a sociedade. Mas e os homens que são contra a guerra: por que não fazem coisa nenhuma? Pensei no que poderia atraí-los para as discussões de paz, quando Assatu disse: Já sei, vamos fazer uma greve de sexo. Se os homens perderem o que mais gostam, vão fazer de tudo para recuperar, inclusive ajudar a parar a guerra. Não se tem libido quando a morte está por todos os lados. Anunciar uma greve de sexo foi a maneira que encontramos de chamar atenção da opinião pública”.
Hoje, mãe de mais dois filhos e morando em Gana, Gbowee tem se dedicado intensamente a ações de justiça social e ao desenvolvimento sustentável para comunidades em transformação. É diretora-executiva da Rede Paz e Segurança da África, a WIPSEN-Africa, uma organização que trabalha com mulheres na Libéria, Costa do Marfim, Nigéria e Serra Leoa para gerar transformações positivas através do ativismo pela paz, educação e política eleitoral. Além do Nobel, tem colecionado inúmeras honrarias, entre elas o Blue Ribbon Peace Award do Women's Leadership Board at Harvard University's John F. Kennedy School of Government em 2007, o Profiles in Courage Award da Kennedy Library Foundation em 2009 e o John Jay Justice Award em 2010. Tendo ajudado a atual presidente Ellen Johnson-Sirleaf na chegada ao poder, Leymah Gbowee integrou seu governo do qual saiu em outubro do ano passado alegando frustração com as políticas públicas de combate à corrupção e à pobreza. Ainda assim, sobre o ativismo das mulheres, Gbowee afirma: “Nossas questões na sociedade não têm cor, não têm raça. Não devem ser divididas por classe social. As questões das mulheres não podem ter barreira alguma entre as próprias mulheres”.
Sobre o Fronteiras do Pensamento
O Fronteiras do Pensamento é um projeto cultural múltiplo que aposta na liberdade de expressão intelectual e na educação de qualidade como ferramentas para o desenvolvimento. Através de uma série anual de conferências, o Fronteiras abre espaço para o debate e a análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro, apresentando pensadores, cientistas e líderes que são vanguardistas em suas áreas de pesquisa e pensamento.
Temas, ideias e personalidades que moldam o nosso tempo ocupam o palco do Fronteiras, que tem como valores básicos o pluralismo das abordagens e o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados. Desta forma, o curso de altos estudos busca avaliar tendências, aceitando a provocação destes que são, hoje, alguns dos mais renomados pensadores em atuação no mundo, constituindo uma linha interdisciplinar de pensamento.
Em seus sete anos de existência, o Fronteiras do Pensamento conta com mais de 150 conferências realizadas para milhares de espectadores. O Fronteiras “quer trazer para o debate temas imprescindíveis, dando aos espectadores uma visão real dos próximos dez ou vinte anos, nas diferentes áreas contempladas”.
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado pela Braskem e tem o patrocínio de Unimed Porto Alegre, Weinmann Laboratório, Santander, CPFL Energia, Natura e Gerdau. Promoção Grupo RBS. O projeto conta com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul como universidade parceira e parceria cultural de Unisinos, Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Informações para imprensa Fronteiras do Pensamento Porto Alegre Cybeli Moraes (51) 9827.5502
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