Zé Augustho Marques
A médica-psquiatra me
disse que "eu estava com depressão", com uma voz narrativa entre os
polos da linguagem onde hoje em dia, tudo é matéria e matérico! Pois bem, eu
que não sabia o que era ter a tal depressão, procurei voltar ao mundo
pré-linguístico, representado pelo meu corpo. No meu pensamento a depressão é
como um poema sem lastro, é uma procura de conexão com a matéria, pelo próprio
tema que ela impõe-se, pela redundante e inexplicável abstração que se desenha
a cada pingo d'água que deixei a torneira sem fechar direito. Meu esforço para
torná-la uma obra de arte ou uma prosa antipoética, me torna um ser híbrido,
entre a intuição de um insight literário, assinado pela heteronomia de uma bula
do tamanho de um rolo de papel higiênico e, meu amadorismo redutor, de uma alma
que escreve e assina com borrões de merda encagaçada... Acho mesmo que agora que a ficha caiu, que a
gente vive uma vida ambivalente, com ou sem decoros parlamentares entre nossos
sistemas neurotransmissores. E, eu estou
louco para que chegue à noite, com o William Bonner e a Patricinha Poeta, me
darem Boa Noite e despejarem, mais um
monte de coisas lindas e maravilhosas que este País produz! Roubo, corrupção, gente na fila do SUS,
esperando a morte chegar, o jogador que comeu o traveco e não pagou, um
Cachoeira que é chefe de uma cachoeira de políticos e homens públicos, o Collor
esbugalhando os olhos na sessão da CPIzza, o Lula fazendo visitinha pro Sarney,
o telefone que não para de tocar, a "Copa" que vai ser a "melhor
do mundo..." e, mais a puta que os pariu! Estou nas mãos da necessidade de
desaparecer, como obra de arte Surrealista ou Dadaísta: esperando encontrar num
milagreiro remédio qualquer, a antipoesia da cafeína, da pimozida, macrogol, do
carisprodol, diclofenaco, cisax, paracetamol, ou uma boleta futurista, que me
cure desse cárcere midiático, produzida pela doença do roubalheirol e seus
sintomas de falta de valores, escoando pelos ralos da miséria visceral dessa
gente podre...
E, boa DEPRÊ para todos!
Zé Augustho Marques
Tem como não ficar deprimido com as notícias recentes?
ResponderExcluirTalvez, mais que os antidepressivos, o melhor remédio contra a depressão hoje seja atirar a TV pela janela (não sem antes olhar para ver se tem alguém passando embaixo...)